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A Herança
by Zefir
Ainda não estou acreditando e, se não tivesse acabado de sair do escritório do advogado com os papéis na mão, provavelmente iria achar que era alguma brincadeira. É que eu acabo de herdar uma casa no campo como herança do meu avô. Nem uma hora de viagem de onde eu moro. Na verdade a casa era a sede de uma grande fazenda que foi dividida entre os herdeiros. Não sei porque deixaram a casa para mim. Talvez porque preferiram a parte produtiva da fazenda e, como eu sou da cidade, me deixaram a casa, sei lá... Só sei que amanhã estou indo visitar minha nova propriedade.
Chegando em casa, já fui arrumando as minhas coisas e, no meio da bagunça, achei o álbum de retratos da minha mãe. Bom, só para vocês entenderem mais ou menos a minha família, eu sou filha única e meus pais morreram há algum tempo num acidente de carro. O meu avô, pai da minha mãe, era fazendeiro e muito tradicional, tipo paulista quatrocentão, e sempre morou na fazenda. Vinha muito pouco para São Paulo porque achava a vida na cidade muito liberal, que as pessoas haviam perdido a noção de respeito e educação, essas coisas que os mais velhos sempre falam sobre os hábitos dos mais jovens. Minha mãe tinha mais um irmão, que também havia morrido, e minha tia e meus primos eram os herdeiros do resto da fazenda. Voltando ao álbum, a foto da casa era muito antiga mas mostrava perfeitamente toda a fachada. Estilo tradicional com portas altas, sacadas nas janelas e uma escada na frente deixando a porta de entrada de frente para uma pequena varanda de onde se via todo o jardim. Fiquei lembrando das brincadeiras com meus primos quando éramos crianças, dos passeios, das cavalgadas, da comida feita na gordura de porco, do pomar, do riacho. Bons tempos. Lembrei do meu avô e da minha avó, sentados na varanda da frente da casa, acompanhando nossas brincadeiras. Apesar de ser bastante rígido e sistemático, nosso avô era muito carinhoso com os netos, sua paciência era enorme. Bom, enorme para nos ensinar, para cuidar de nós, para brincar, mas se o caso fosse de desobediência, de pirraça, ele não pensava duas vezes para esquentar um traseiro. Ele andava com uma bengala, por causa de um começo de derrame que teve, mas depois passou a usa-la mais por hábito do que por necessidade. Quando algum dos netos ou netas fazia uma malcriação ele batia, de leve, com a bengala na bunda. Se continuássemos com a malcriação, uma visita no colo dele era certa. Fosse neto ou neta o ritual era o mesmo, ele deitava a criança no colo de bunda de fora e dava umas boas palmadas.
Uma vez, e eu não gosto de lembrar, fomos eu e minha mãe passar uns dias com meu avô. Eu tinha uns doze anos, estava de férias e meu pai viajara para o nordeste para visitar uma filial da firma na qual trabalhava. Uma noite minha mãe havia ido até uma cidadezinha próxima com umas amigas de infância e voltou lá pelas onze da noite, horário que para o meu avô era um absurdo. Eu estava no banheiro quando ouvi a minha mãe falando com ele. Ela dizia que não era mais criança, que com meu pai já havia voltado para casa muito mais tarde do que isso e que não era mais criança. Dava para perceber que ela havia bebido um pouco. Ela falava alto mas meu avô falava baixo e pausadamente. Inclusive nunca tinha visto ele levantar a voz. Tive de me esforçar para ouvir o que ele dizia. Só consegui entender que, como meu pai estava viajando e ela estava sob sua responsabilidade, ela teria de obedece-lo. Minha mãe falou mais alguma coisa mas parou abruptamente quando ouviu-se um som meio abafado e um leve gritinho da minha mãe. Para nós que conhecíamos o vovô era fácil saber o que era aquele som: bengala batendo numa bunda. Minha mãe voltou a discutir com meu avô e, apesar de não acreditar que ele daria uma surra nela, que já era adulta, minha vontade era de avisa-la para parar. Novamente ouviu-se aquele barulho característico e minha mãe parou de falar e gemeu. Agora ele deve ter batido mais forte e falou alguma coisa sobre ir para o escritório. Não ouvi mais nada. Sai devagarinho do banheiro e, sem fazer barulho fui até a porta do escritório. Pelo buraco da fechadura eu vi o meu avô sentado numa cadeira no meio do escritório e minha mãe de pé na sua frente, de cabeça baixa. Ele colocou a sua bengala no chão e deu dois tapinhas no seu joelho. Minha mãe ficou de costas para mim e começou a deitar de bruços no seu colo. Ele colocou a mão no ombro dela, impedindo-a de deitar e apontou para a calça. Minha mãe deve ter começado a chorar pois, mesmo de costas, dava para perceber ela tentando enxugar as lágrimas. Lentamente ela começou a tirar o jeans, já tirando a calcinha junto, e deitou no colo do meu avô. Minha mãe era uma mulher muito bonita e de uma personalidade muito forte, imagino o tamanho da vergonha que aquela situação lhe trazia. E foi também quando percebi o respeito que meu avô impunha na família.
Ele começou a bater nela com força, bem mais forte do que batia em nós. Batia sempre no centro da bunda e a cada palmada parecia que minha mãe seria jogada para fora do colo dele. No começo ela segurou o choro, mas logo alguns soluços denunciavam que ela não agüentaria muito tempo. Quando ela começou a chorar sua bunda já estava tão vermelha que achei que ela nunca mais poderia se sentar na vida.
Quando tudo acabou ela ficou ali, deitada no colo e chorando. Só quando ela se acalmou é que ele a mandou se levantar. Lentamente ele pegou a sua bengala, levantou da cadeira colocando-a de volta atrás da escrivaninha e começou a vir para a porta. Tudo sem dizer uma única palavra. Só tive tempo de me esconder atrás de um móvel antes que ele abrisse a porta. Torci para que ele subisse as escadas o mais rápido possível pois queria ir logo para o meu quarto para que minha mãe me visse. Não queria que ela soubesse que testemunhei a sua surra. Mas não deu, quando eu fui correr para as escadas dei de cara com ela. Estava com suas calças dobrada nos braços e nua da cintura para baixo. Acho que não consegui vesti-las de novo. Quando nos olhamos comecei a chorar e a única coisa em que pensei foi abraça-la. Ficamos um pouco ali paradas, abraçadas e subimos para o quarto. Ela me pôs na cama e foi para o banheiro. Eu ainda estava acordada quando ela voltou e deu para perceber o cuidado com que ela de deitou e ouvir o seu choro baixinho. Não resisti e perguntei porque ela deixou o vovô bater nela. Ela respondeu que ele já era velho e que na cabeça dele, aquilo era para o nosso bem. Mesmo assim não fiquei muito convencida, afinal ela já era adulta e ele não teria forças para bater nela se ela não deixasse. Mas ela me explicou que mesmo assim ele tentaria e, como já havia tido um derrame, o esforço poderia fazer com que tivesse outro. Eu meio que entendi meio que não entendi. Não queria ficar sem o vovô mas também não gostara de ver a minha mãe naquela situação. Fiquei pensando naquilo até adormecer. Quando acordei na manhã seguinte minha mãe ainda dormia, ainda de bruços e com a bunda para fora das cobertas, nua e vermelha. Imagino como deveria ter sido difícil para ela dormir aquela noite. Mesmo assim não tinha raiva do meu avô. Desci para o café da manhã e o dia correu normalmente exceto pela minha mãe que não saiu do quarto aquele dia. Quando ela melhorou fomos embora. Não havíamos mais comentado sobre o assunto mas na viagem ela me pediu para não contar nada para o meu pai. Ela sabia que ele não entenderia e não queria que ele brigasse com meu avô ou não nos deixasse mais vir na casa dele. Mesmo assim nunca mais viemos para passar as férias, era ir e voltar no mesmo dia.
Meu avô morreu uns seis meses depois e meu tio ficou cuidando da fazenda e da minha avó. Quando fiz 19 anos meus pais morreram. Fiquei em São Paulo para terminar a faculdade e praticamente nunca mais voltei lá. Não sei porque perdi o contato com eles e fiquei mais ligada a família do meu pai. Talvez porque fui a única neta criada na cidade grande e a família da minha mãe nunca entendeu o meu comportamento. Quando minha avó morreu só fui até a cidade para o enterro. Não sei porque não quis ir até a fazenda. E agora ela é minha... bom, pelo menos a casa e amanhã vou estar lá.
Continua............
by Zefir
Ainda não estou acreditando e, se não tivesse acabado de sair do escritório do advogado com os papéis na mão, provavelmente iria achar que era alguma brincadeira. É que eu acabo de herdar uma casa no campo como herança do meu avô. Nem uma hora de viagem de onde eu moro. Na verdade a casa era a sede de uma grande fazenda que foi dividida entre os herdeiros. Não sei porque deixaram a casa para mim. Talvez porque preferiram a parte produtiva da fazenda e, como eu sou da cidade, me deixaram a casa, sei lá... Só sei que amanhã estou indo visitar minha nova propriedade.
Chegando em casa, já fui arrumando as minhas coisas e, no meio da bagunça, achei o álbum de retratos da minha mãe. Bom, só para vocês entenderem mais ou menos a minha família, eu sou filha única e meus pais morreram há algum tempo num acidente de carro. O meu avô, pai da minha mãe, era fazendeiro e muito tradicional, tipo paulista quatrocentão, e sempre morou na fazenda. Vinha muito pouco para São Paulo porque achava a vida na cidade muito liberal, que as pessoas haviam perdido a noção de respeito e educação, essas coisas que os mais velhos sempre falam sobre os hábitos dos mais jovens. Minha mãe tinha mais um irmão, que também havia morrido, e minha tia e meus primos eram os herdeiros do resto da fazenda. Voltando ao álbum, a foto da casa era muito antiga mas mostrava perfeitamente toda a fachada. Estilo tradicional com portas altas, sacadas nas janelas e uma escada na frente deixando a porta de entrada de frente para uma pequena varanda de onde se via todo o jardim. Fiquei lembrando das brincadeiras com meus primos quando éramos crianças, dos passeios, das cavalgadas, da comida feita na gordura de porco, do pomar, do riacho. Bons tempos. Lembrei do meu avô e da minha avó, sentados na varanda da frente da casa, acompanhando nossas brincadeiras. Apesar de ser bastante rígido e sistemático, nosso avô era muito carinhoso com os netos, sua paciência era enorme. Bom, enorme para nos ensinar, para cuidar de nós, para brincar, mas se o caso fosse de desobediência, de pirraça, ele não pensava duas vezes para esquentar um traseiro. Ele andava com uma bengala, por causa de um começo de derrame que teve, mas depois passou a usa-la mais por hábito do que por necessidade. Quando algum dos netos ou netas fazia uma malcriação ele batia, de leve, com a bengala na bunda. Se continuássemos com a malcriação, uma visita no colo dele era certa. Fosse neto ou neta o ritual era o mesmo, ele deitava a criança no colo de bunda de fora e dava umas boas palmadas.
Uma vez, e eu não gosto de lembrar, fomos eu e minha mãe passar uns dias com meu avô. Eu tinha uns doze anos, estava de férias e meu pai viajara para o nordeste para visitar uma filial da firma na qual trabalhava. Uma noite minha mãe havia ido até uma cidadezinha próxima com umas amigas de infância e voltou lá pelas onze da noite, horário que para o meu avô era um absurdo. Eu estava no banheiro quando ouvi a minha mãe falando com ele. Ela dizia que não era mais criança, que com meu pai já havia voltado para casa muito mais tarde do que isso e que não era mais criança. Dava para perceber que ela havia bebido um pouco. Ela falava alto mas meu avô falava baixo e pausadamente. Inclusive nunca tinha visto ele levantar a voz. Tive de me esforçar para ouvir o que ele dizia. Só consegui entender que, como meu pai estava viajando e ela estava sob sua responsabilidade, ela teria de obedece-lo. Minha mãe falou mais alguma coisa mas parou abruptamente quando ouviu-se um som meio abafado e um leve gritinho da minha mãe. Para nós que conhecíamos o vovô era fácil saber o que era aquele som: bengala batendo numa bunda. Minha mãe voltou a discutir com meu avô e, apesar de não acreditar que ele daria uma surra nela, que já era adulta, minha vontade era de avisa-la para parar. Novamente ouviu-se aquele barulho característico e minha mãe parou de falar e gemeu. Agora ele deve ter batido mais forte e falou alguma coisa sobre ir para o escritório. Não ouvi mais nada. Sai devagarinho do banheiro e, sem fazer barulho fui até a porta do escritório. Pelo buraco da fechadura eu vi o meu avô sentado numa cadeira no meio do escritório e minha mãe de pé na sua frente, de cabeça baixa. Ele colocou a sua bengala no chão e deu dois tapinhas no seu joelho. Minha mãe ficou de costas para mim e começou a deitar de bruços no seu colo. Ele colocou a mão no ombro dela, impedindo-a de deitar e apontou para a calça. Minha mãe deve ter começado a chorar pois, mesmo de costas, dava para perceber ela tentando enxugar as lágrimas. Lentamente ela começou a tirar o jeans, já tirando a calcinha junto, e deitou no colo do meu avô. Minha mãe era uma mulher muito bonita e de uma personalidade muito forte, imagino o tamanho da vergonha que aquela situação lhe trazia. E foi também quando percebi o respeito que meu avô impunha na família.
Ele começou a bater nela com força, bem mais forte do que batia em nós. Batia sempre no centro da bunda e a cada palmada parecia que minha mãe seria jogada para fora do colo dele. No começo ela segurou o choro, mas logo alguns soluços denunciavam que ela não agüentaria muito tempo. Quando ela começou a chorar sua bunda já estava tão vermelha que achei que ela nunca mais poderia se sentar na vida.
Quando tudo acabou ela ficou ali, deitada no colo e chorando. Só quando ela se acalmou é que ele a mandou se levantar. Lentamente ele pegou a sua bengala, levantou da cadeira colocando-a de volta atrás da escrivaninha e começou a vir para a porta. Tudo sem dizer uma única palavra. Só tive tempo de me esconder atrás de um móvel antes que ele abrisse a porta. Torci para que ele subisse as escadas o mais rápido possível pois queria ir logo para o meu quarto para que minha mãe me visse. Não queria que ela soubesse que testemunhei a sua surra. Mas não deu, quando eu fui correr para as escadas dei de cara com ela. Estava com suas calças dobrada nos braços e nua da cintura para baixo. Acho que não consegui vesti-las de novo. Quando nos olhamos comecei a chorar e a única coisa em que pensei foi abraça-la. Ficamos um pouco ali paradas, abraçadas e subimos para o quarto. Ela me pôs na cama e foi para o banheiro. Eu ainda estava acordada quando ela voltou e deu para perceber o cuidado com que ela de deitou e ouvir o seu choro baixinho. Não resisti e perguntei porque ela deixou o vovô bater nela. Ela respondeu que ele já era velho e que na cabeça dele, aquilo era para o nosso bem. Mesmo assim não fiquei muito convencida, afinal ela já era adulta e ele não teria forças para bater nela se ela não deixasse. Mas ela me explicou que mesmo assim ele tentaria e, como já havia tido um derrame, o esforço poderia fazer com que tivesse outro. Eu meio que entendi meio que não entendi. Não queria ficar sem o vovô mas também não gostara de ver a minha mãe naquela situação. Fiquei pensando naquilo até adormecer. Quando acordei na manhã seguinte minha mãe ainda dormia, ainda de bruços e com a bunda para fora das cobertas, nua e vermelha. Imagino como deveria ter sido difícil para ela dormir aquela noite. Mesmo assim não tinha raiva do meu avô. Desci para o café da manhã e o dia correu normalmente exceto pela minha mãe que não saiu do quarto aquele dia. Quando ela melhorou fomos embora. Não havíamos mais comentado sobre o assunto mas na viagem ela me pediu para não contar nada para o meu pai. Ela sabia que ele não entenderia e não queria que ele brigasse com meu avô ou não nos deixasse mais vir na casa dele. Mesmo assim nunca mais viemos para passar as férias, era ir e voltar no mesmo dia.
Meu avô morreu uns seis meses depois e meu tio ficou cuidando da fazenda e da minha avó. Quando fiz 19 anos meus pais morreram. Fiquei em São Paulo para terminar a faculdade e praticamente nunca mais voltei lá. Não sei porque perdi o contato com eles e fiquei mais ligada a família do meu pai. Talvez porque fui a única neta criada na cidade grande e a família da minha mãe nunca entendeu o meu comportamento. Quando minha avó morreu só fui até a cidade para o enterro. Não sei porque não quis ir até a fazenda. E agora ela é minha... bom, pelo menos a casa e amanhã vou estar lá.
Continua............
Mar 5 déc 2006
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