le blog casadaspalmadas
- Ah não, eu não quero!
- Você não tem de querer nem deixar de querer, Ana Maria. Você vai e pronto!
Essa deveria ser a trigésima ou a quadragésima discussão de Ana Maria com seu tretatetatararavô. Ou seria tatatataravô? Bem, era o bisavô do bisavô do bisavô do... enfim, era um antepassado de muito, muito tempo atrás, do tempo dos escravos. Mas o antepassado de Ana Maria não foi vendido como escravo, embora tivesse sido, antes de se converter ao cristianismo, um poderoso feiticeiro africano. Antes, trabalhava para as forças das trevas. Depois da conversão, passara a trabalhar para a Santa Igreja, e para a maior glória de Deus.
Foi no século XVI que o antepassado de Ana Maria chegou ao Brasil, levado pelo missionário que o convertera, e deveria matar um poderoso dono de terras, produtor de açúcar, senhor de gado e escravos, e vampiro, que aterrorizava a região do Vale do Paraíba. As autoridades não ousavam tocar nele, era o maior produtor de açúcar e dono de gado local, um homem riquíssimo. Por três vezes, a Igreja tentou condenar o vampiro, pois tinha provas que ele matava e bebia o sangue de donzelas negras, índias, brancas e mestiças de toda a região. Nas três vezes, o vampiro foi absolvido, e escapara de ter uma estaca encravada em seu coração antes de ser queimado numa fogueira, como era praxe naqueles tempos, no século XVI. O único jeito foi infiltrar um homem temente a Deus, para matá-lo. O ex-feiticeiro, convertido, sabia como eram as forças do mal e estava disposto a combatê-las, mesmo correndo o risco da própria vida. Então, ele foi vendido como escravo ao vampiro, e um dia o vampiro amanheceu com uma estaca no coração, rodeado de crucifixos. A Igreja recebeu o corpo, para enterrá-lo, e de fato o enterrou, mas antes o corpo foi cremado, e só sobraram cinzas, que não mais poderiam se recompor, salvando assim dezenas de donzelas brasileiras.
Décadas depois, tendo feito vários serviços do bem à Santa Igreja, o antepassado de Ana Maria morreu em avançada idade. Mas não desapareceu do Brasil com sua morte: ele ainda aparecia para ajudar seus descendentes a combater os vampiros do Brasil, sempre que a necessidade surgia. E agora, havia milhares de vampiros assombrando os brasileiros. A queda da União Soviética e o fim do comunismo liberaram a migração desses monstros do leste europeu para vários países do mundo, e diziam que o próprio Conde Drácula, que se disfarçara em um dos chefes do partido comunista da Romênia, tinha se refugiado no Brasil.
E apenas um de seus descendentes poderia continuar a caça aos vampiros, e era Ana Maria, uma jovem mulata, muito inteligente e bonita, que vivia com os pais e gostava de ler muitos livros. Era uma moça normal em quase tudo. Quase, porque sempre tivera a impressão de ver espectros, e embora seus pais a tinham convencido de que era só sua imaginação, ela nunca se convencera por completo. Por isso, quando seu antepassado apareceu em seus sonhos e depois deixou bilhetes em sua mesa, em seu caderno, em seus bolsos, ela não demorara muito para se convencer de que era mesmo uma alma de outro mundo, e não um trote de suas amigas. Então, seu antepassado passou a se comunicar regularmente com ela, e agora estava tentando convencê-la a ser uma caçadora de vampiros. Mas, fora o fato de que ela conversava com o espírito de um antepassado longínquo e tinha visões, ela era como toda moça normal. E, como toda moça normal, tinha medo de vampiros.
- Não interessa se você tem medo! Você vai e pronto! Eu jurei para os padres da Igreja que eu e meus descendentes caçaríamos os vampiros e por isso você tem que ir!
- Os seus outros descendentes, os meus primos, eles não podem por que?
- Porque eles não têm sensibilidade para perceber o sobrenatural! Só você nasceu com esse dom e pode sentir minha presença.
- E por que você não reencarna para matar esses bichos?
- Porque não existe reencarnação. Mas chega de conversa fiada! Vamos logo matar um vampiro! No seu carro eu coloquei uma maleta com um crucifixo, uma estaca de madeira e um martelo. Eu vou te guiar até uma cripta. Quando chegarmos lá...
- Não vou!
- SE VOCÊ NÃO FOR, VAI LEVAR UMAS BOAS PALMADAS!
Ana Maria olhou para seu tretatetatararavô. Primeiro com surpresa, depois com uma expressão de desafio:
- Velhote! Você não tem nem um corpo de verdade! E já sou muito grande para palmadas há muito tempo!
E o antepassado de Ana Maria sumiu no ar.
Ela esfregou os olhos, não viu nada. Esfregou de novo, olhou para os lados, e não havia nada.
- Estou sonhando – disse ela – Não há tretatetatararavô nenhum! É apenas um delírio.
Então, sem que Ana Maria percebesse, um de seus chinelos se levantou e parou no ar, na altura do bumbum dela. Depois, voou velozmente em direção ao traseiro de Ana Maria, onde bateu com força.
- Aiiiii...! Ana Maria gritou, não tanto de dor quanto de susto. E mais assustada ficou quando se voltou e viu o chinelo parado no ar.
- Não é possível! Não é!
E então o chinelo voou para trás dela, se posicionando para dar outra chinelada, e a apavorada Ana Maria, rápida como um raio, sumiu pela casa adentro. Mas o chinelo voou pela casa atrás dela, e não foi possível enganá-lo. Ela se escondeu atrás de uma porta, mas o chinelo passou por cima da porta e acertou outra chinelada no bumbum dela.
- Aiiii...
Ana Maria correu para seu quarto, mas o chinelo a perseguia, e mais rápido, pois enquanto ela corria o chinelo acertava várias vezes seu bumbum, a ponto dela correr com as mãos protegendo seu traseiro. Quando entrou no quarto, viu que não tinha mais para onde correr, e encostou o bumbum na parede, para não apanhar mais. Mas o chinelo passou a bater nas coxas, do lado, e quando Ana Maria cobriu as coxas com as mãos para se proteger o chinelo passou a bater nas mãos, que era mais doloroso do que no bumbum.
- Ai, ai, para, ai... ô, meu tretatetatararavô ou sei lá o que meu, para, para, vamos conversar!
- Ah, você quer conversar? Então vamos conversar. Mas você vai matar o vampiro daqui a pouco, isso já está decidido e não tem conversa. Tirando isso, o que você quer conversar?
Ana Maria esfregou um pouco suas coxas e nádegas, que doíam. Mesmo por cima do tecido do calção dava para sentir que a pele estava quente. Não queria ir. Não queria, não queria e não queria. Mas de que ter mais medo, dos vampiros ou do estranho antepassado que fazia os chinelos voarem em direção ao bumbum dela?
O que você quer conversar?
Não adiantava nada Ana Maria pedir para não ir, ela resolveu tentar convencer o tretatetatararavô indiretamente, tentando enrolar.
- Eu vou, mas...
- Mas o que?
- Puxa, tretatetatararavô, eu vou, tenho que ir, então vou, mas...
- Está tentando me enrolar, é?
- Não! Claro que não! Mas é que...
- Que o que?
- Eu arrisco a vida, enfrento um monstro perigoso, mato o vampiro, missão cumprida...
- É, missão cumprida!
- Mas meu tretatetatararavô, e aí, eu não ganho nada? Eu acho que mereço alguma coisa, puxa, não é justo! Se o vampiro estivesse vampirando por aí por culpa minha, então sim, eu teria obrigação de consertar meu erro de graça, mas eu fiz algum vampiro? Está bem, você diz que ele tem que ser destruído e tem que ser por mim, mas eu acho que deveria ganhar alguma coisa, puxa...
Então, o tretatetatararavô de Ana Maria, que durante a conversa tinha estado invisível, apareceu e fez um gesto com as mãos. Um espelho grande se pôs perante Ana Maria e ela se viu vestida uma linda roupa, de seda, veludo e cetim, e jóias, muitas joias, todas lindas. Ana Maria parecia uma princesa de contos de fadas, e se olhou admirada, deslumbrada... era a roupa de seus sonhos, e seria a festa de seus sonhos, se estivesse vestida assim numa festa muito chique, chiquérrima...
- Ah, meu tretatetaravozinho....
- Gostou, hein? Se você matar um vampiro agora, na sua primeira missão, essas roupas e essas jóias serão suas.
O medo de Ana Maria diminuiu muito depois que o tretatetaravó dela falou isso.
- Bem, se vou ter que ir mesmo, e se vou ter uma recompensa tão boa...
- Sim, os céus recompensam quem cumpre sua missão, Ana Maria. Está em todos os livros sagrados.
- Está?
- Leia a Bíblia de sua mãe, por exemplo.
- E como acho o vampiro?
- Já disse: você entra no carro, eu te levo até o cemitério, lá eu te acompanho até a cripta...
- Você me leva, como?
- Siga seus instintos.
Ana Maria foi até seu carro, mas antes de sair do quarto, ela se lembrou de perguntar:
- E se na hora eu sentir medo e não quiser matar o vampito?
Quando Ana Maria falou isso, um chinelo se levantou e voou devagar na direção dela.
- Não, tudo bem, eu entendi, eu entendi!
Ana Maria ia saindo, quando, sem que ela notasse, o chinelo voou de novo. Ele foi até o teto, e de lá desceu com toda força no bumbum de Ana Maria.
- Aiiiiiii!
- Essa foi para você nunca mais me chamar de velhote! Trate-me por “senhor meu antepassado”! Entendeu?
- Ai, ai... - dizia Ana Maria, esfregando o bumbum – sim, entendi...
- Vamos, então!
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No carro, Ana Maria seguiu seus instintos: saiu da garagem da casa dos pais (ela morava com eles e tinha permissão para dirigir um dos dois carros deles, mas eles não estavam em casa) e foi pela estrada, sem saber para onde ia. Quando tinha que escolher entre dois caminhos, olhava para um, via um passarinho bonito, e ia por ele. Se não via nenhum passarinho, ela olhava para a esquerda, e ia pela esquerda, e fez assim até pensar: “Ah, fio muito pela esquerda, agora vou pela direita!”, e foi, sempre entrado a direita, até ver uma praça com estatuas de profetas bíblicos. Um deles apontava o dedo como se indicando um caminho, e Ana Maria seguiu na direção apontada, e foi por muito tempo em linha reta, até chegar numa mansão abandonada, muito grande mas mal conservada, que aparentava vários anos, e ao redor não havia viva alma, o que fazia o lugar ser muito assustador.
Ana Maria logo viu que o cemitério deveria está perto daquela mansão, seria muito apropriado. E, de fato, poucos metros depois, ela viu uma casinha estranha, que quando chegou mais perto viu que era uma capelinha, rodeada de lápides. Havia uma cerca rodeando a capelinha. Lá, deveria ser o cemitério, e naquela capelinha deveria estar cripta onde o vampiro repousava de dia, para poder assombrar, sugar o sangue de moças inocentes e matá-las, durante a noite.
Logo depois, ela viu uma entrada com um vigia cochilando. E pensou: “Devo entrar, sem permissão? A porta está aberta, ele cochila... Acho que foi meu tretatetaravó que adormeceu ele, vou entrar sim”. Ela entrou sem permissão, porque também tinha uma esperança: que o vigia acordasse e a mandasse sair dali, por entrar sem permissão num cemitério que parecia ser particular. Aí, ela teria uma boa desculpa para não ter que enfrentar o vampiro. Mas o vigia não acordou, e Ana Maria teve então certeza que o tretatetaravó dela o tinha adormecido, para que ela entrasse sem problemas.
E ela achou isso péssimo, porque o medo voltara. O cemitério era assustador, assim como a mansão e mais ainda a cripta. Estava de dia, e era bem claro, mas o lugar deserto, as arvores longas, escuras, secas e tortas, como se fossem pessoas se contorcendo de dor, presas no solo, amaldiçoadas...
Os galhos das arvores pareciam braços se esticando para agarrar Ana Maria e, quando o vento, se era mesmo o vento, fazia os galhos balançarem e se encostarem aos vidros do carro, ela se arrepiava e tremia.
Então, o carro parou. Não entendeu como nem porque o carro tinha parado, pois ela não freara nem mexera nas chaves, mas mesmo assim o carro parou. Ela ainda tentou dar a partida, não funcionava. Então, ela olhou para a janela e viu que estava em frente à cripta do vampiro. Uma cripta... ela nunca tinha visto uma cripta antes, só em filmes de terror...
A cripta ficava dentro de uma capelinha abandonada, uma pequena casa de pedra, muito branca, talvez de mármore. O fato é que ela parecia ter sido abandonada há séculos. Mesmo de dia, era escuro, por causa das sombras das arvores altas e tortas que enchiam aquele cemitério. E a porta da capelinha, que dava acesso à cripta estava coberta de poeira e teias de aranha.
O vento frio assobiava e fazia os galhos balançarem e projetarem suas sombras no chão, e Ana Maria tinha cada vez mais medo. Era muito assustador, de fato. Mesmo assim a moça ainda teve coragem para ir até a cripta. Deveria entrar nela e matar o vampiro com uma estaca no coração, como seu tretatetataravô tinha lhe explicado. Tremia, coitada... mesmo assim, ela conseguiu andar até a porta da capelinha.
“Lá dentro, a cripta, e na cripta, o vampiro! Lá dentro, a cripta, e na cripta, o vampiro! La dentro...” Ana Maria repetia para si mesma, para se dar coragem. Tinha uma grande cruz pendurada no pescoço, um martelo na mão direita e uma estaca na mão esquerda. Abriu, pois, a porta da capelinha. Ela era iluminada por uma janela, e se via sombras. Então, uma das sombras se moveu, e cobriu Ana Maria, que viu uma mão tentando atacá-la.
- Aiiiiiiii!
A moça saiu correndo da capelinha e foi até o carro. Não, ela não teria nem roupas finas nem jóias, mas precisava sair logo daquele lugar horrível, por sua própria vida, tinha um monstro lá, ele iria matá-la, ele...
E Ana Maria sentiu uma mão agarrar ela. Virou-se, era seu antepassado.
- Ah, tretatetataravô, graças a Deus é você. Desculpe-me, desculpe-me, mas não posso! Eu tenho medo, por favor, não me obrigue, não... aí, o que é isso?
Isso era o tretatetataravô de Ana Maria abaixando as calças dela, e logo depois as calcinhas. Ele a despiu da cintura para baixo, e então foi até um banco de pedra que ficava entre duas lápides, onde os visitantes do cemitério deveriam descansar, muitos anos atrás, e que naquele momento estava meio encoberto pela relva e por arbustos, sinais da falta de cuidado. Mas para o que o tretatetataravô de Ana Maria queria fazer o banco servia.
O tretatetataravô de Ana Maria vinha carregando ela no colo, como se fosse uma noiva, apesar dos protestos de sua descendente, até o banco, onde ele se sentou, e deitou Ana Maria em seu colo, com o bumbum para cima. Era um belo bumbum, mais branco que o resto do corpo, pois embora Ana Maria fosse mulata ela não costumava se bronzear de fio dental e não mostrava suas nádegas na praia ou na piscina. Além do mais, ela estava pálida de medo, primeiro do cemitério, depois do vampiro, e agora da surra que levaria, e isso clareou ainda mais seu bumbum liso e redondo. Bem que Ana Maria tentou escapar, mas ela estava presa com firmeza em cima das pernas do tretatetataravô, por uma força que parecia ser sobrenatural, pois não conseguia alcançar o bumbum para protegê-lo com as mãos, nem pular fora do colo do tretatetataravô por mais que esperneasse. Só podia mexer os braços e as pernas, e assim ela se parecia ainda mais uma criança pequena no colo do papai ou do vovó, com o bumbum de fora, esperando seu castigo.
Então, vieram às palmadas. O bumbum de Ana Maria recebeu, completamente desprotegido, vários golpes.
- Aiiii... pare, pare, por favor, meu tret... senhor antepassado, por favor, pare! Ai, ai...
- É o premio de sua covardia! – disse o antepasssado de Ana Maria, e depois ele se calou, se concentrando nas palmadas.
O tretatetataravô da Ana Maria batia forte, e mantinha um bom ritmo. Suas palmadas doíam muito para um fantasma do século XVI. Ele batia sempre em um lugar diferente, na parte de cima e na parte de baixo da nádega esquerda e da nádega direita, às vezes também na parte de cima das coxas, mas essas vezes eram mais raras, as palmadas atingiam principalmente o centro do bumbum da caçadora de vampiros. Em certo momento, Ana Maria parou de tentar escapar ou deter a surra. Parou de se debater. Baixou a cabeça, cansada e chorando, um choro baixo, sentido. Foi quando seu tretatetataravô parou. Ele pegou de volta a estaca e o martelo, que tinham caído, e entregou a Ana Maria, dizendo:
- Agora, vá matar aquele vampiro!
Chorando ainda, Ana Maria foi até a cripta. Ainda se voltou para seu tretatetataravô, mas ele já sabia o que ela queria e disse:
- Não, vai sem calças e sem calcinhas! Da próxima vez você saberá que não se deve fugir.
E assim, com o bumbum de fora, Ana Maria entrou na capelinha e foi até a cripta. Estava frio, mas ela não ligava para isso, o calor que vinha de seu bumbum aquecia bem o resto do corpo. Além do mais, ela estava com muita vergonha agora, ainda bem que no cemitério não havia ninguém. “Tomara que aquela vigia não acorde logo agora”, pensava ela. Certamente seria muito humilhante ser vista com o bumbum de fora por um estranho, e sem roupa ou toalha por perto para se cobrir. Pior ainda, porém, eram os hematomas que marcavam suas nádegas. Mesmo não sendo um bumbum muito branco, dava para qualquer um ver que tinha sido ferozmente castigado com várias palmadas. Felizmente, o vigia não acordou, e Ana Maria foi até a cripta, onde o maldito vampiro dormia.
Ela sentia uma coisa muito estranha: ódio pelo ser das trevas. Admitia, antes, que era preciso matá-lo, mas ela não tinha tido ódio até agora. É que agora havia um motivo: por causa daquele vampiro, ela tinha apanhado no bumbum, e tinha sido uma surra forte, ela com certeza ficaria sem poder sentar por vários dias. E por isso odiava o vampiro.
Isso facilitou sua missão. Quando entrou na cripta dentro da capelinha, ela removeu com facilidade a tampa do caixão (certamente o tretatetataravô a tinha ajudado) e posicionou a estaca no coração do vampiro com a mão esquerda. A direita golpeou a estaca com o martelo, e logo a madeira penetrou no peito do monstro. Muito sangue começou a jorrar do peito do vampiro, manchando sua camisa fina, de gentleman, e ele abriu os olhos, em direção ao céu, como se entregando, enfim, sua alma a Deus, depois de anos e anos como uma aberração assassina na terra dos homens. Ele tentou ergue os braços e atingir Ana Maria, mas o crucifixo no peito dela o fez cobrir os olhos. Ele estava enfraquecido, incapaz de se defender dos golpes do martelo e da estaca. Depois de cinco minutos, o teto da capelinha caiu, sem atingir Ana Maria, mas inundando a cripta de sol, e isso destruiu de vez o vampiro. Ele deu um ultimo grito de desespero, antes de seu corpo começar a se desmanchar. Ana Maria percebeu que não precisava mais continuar a golpear a estaca com o martelo, e se afastou. O sol fez o vampiro virar cinzas, terminando com uma maldição para sempre.
Quando Ana Maria ia saindo da capelinha, ela encontrou suas calças e calcinhas presa em um dos galhos da arvore, perto do carro. Ela se vestiu, e seu bumbum ardeu ao contato com o tecido. Mas tinha acabado, ela tinha matado o vampiro e agora ia para casa. No carro, ela viu que seu tretatetataravô tinha deixado uma almofada, para ela se sentar. Bem que ela estava precisando! Com uma almofada protegendo seu bumbum, portanto, Ana Maria voltou para casa.
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Quando Ana Maria chegou em sua casa, sua mãe estava a esperando.
- Onde você foi, filha?
- Fui visitar uma amiga, mamãe.
- Ah... bem, alguém deixou um pacote aqui para você.
- E onde ele está?
- No seu quarto.
De fato, lá estava um pacote, e dentro dele estava um lindo vestido de seda, o que Ana Maria tinha visto no espelho. E jóias, muitas jóias, pérolas, diamantes, safiras e rubis... com o vestido, um bilhete:
“Cara descentente,
Eu sei que você deve está furiosa por ter apanhado no bumbum com seu tamanho. Isso é bom: a raiva espanta o medo. Você deve saber já, mas de qualquer forma eu digo: sua missão de hoje foi à primeira, logo você terá que sair mais vezes para matar mais vampiros. E saiba, o de hoje foi até um dos mais fracos, não quisemos fazê-la enfrentar um mostro antigo e poderoso como Drácula, por exemplo. A idéia é te treinar com os mais fracos, para que você enfrente depois os mais poderosos. Se eu sinto alguma culpa, algum remorso? Sim, um pouco, afinal não é sua culpa se há vampiros e qualquer moça normal teria medo de matar um deles, como você teve. Lamento, mas eu tenho uma escolha: ou deixo os monstros vivos, aterrorizando donzelas inocentes e criando mais criaturas malditas como eles, ou te obrigo a matar um por um, mesmo que precise te encher o bumbum de palmadas para você perder o medo. Assim, escolhi a segunda alternativa. Claro que seu bumbum é importante. Mas a vida das vitimas dos vampiros é mais ainda.
Eu vou lhe dar um conselho, para seu bem: esqueça as palmadas ou, se não puder esquecer, aprenda a gostar. Divirta-se com o vestido e as jóias, vá a muitas festas. Deixar de caçar vampiros, tão seco, você não irá.
Desejando muito bem a ti, apesar de tudo,
O senhor antepassado”
Ana Maria rasgou em picadinhos o bilhete e sentiu vontade de fazer seu antepassado engolir todo papel. Mas logo a raiva passou, quando reparou melhor nas jóias e no vestido. Ela o vestiu, e as jóias, e se olhou no espelho. Estava linda, deslumbrante. Estava tão linda que esqueceu das palmadas e se sentou, pulando logo em seguida com uma cara de dor, e esfregando o bumbum com uma expressão meio magoada... por mais linda que estivesse, ainda era cedo para poder se sentar sem almofada.
- Você não tem de querer nem deixar de querer, Ana Maria. Você vai e pronto!
Essa deveria ser a trigésima ou a quadragésima discussão de Ana Maria com seu tretatetatararavô. Ou seria tatatataravô? Bem, era o bisavô do bisavô do bisavô do... enfim, era um antepassado de muito, muito tempo atrás, do tempo dos escravos. Mas o antepassado de Ana Maria não foi vendido como escravo, embora tivesse sido, antes de se converter ao cristianismo, um poderoso feiticeiro africano. Antes, trabalhava para as forças das trevas. Depois da conversão, passara a trabalhar para a Santa Igreja, e para a maior glória de Deus.
Foi no século XVI que o antepassado de Ana Maria chegou ao Brasil, levado pelo missionário que o convertera, e deveria matar um poderoso dono de terras, produtor de açúcar, senhor de gado e escravos, e vampiro, que aterrorizava a região do Vale do Paraíba. As autoridades não ousavam tocar nele, era o maior produtor de açúcar e dono de gado local, um homem riquíssimo. Por três vezes, a Igreja tentou condenar o vampiro, pois tinha provas que ele matava e bebia o sangue de donzelas negras, índias, brancas e mestiças de toda a região. Nas três vezes, o vampiro foi absolvido, e escapara de ter uma estaca encravada em seu coração antes de ser queimado numa fogueira, como era praxe naqueles tempos, no século XVI. O único jeito foi infiltrar um homem temente a Deus, para matá-lo. O ex-feiticeiro, convertido, sabia como eram as forças do mal e estava disposto a combatê-las, mesmo correndo o risco da própria vida. Então, ele foi vendido como escravo ao vampiro, e um dia o vampiro amanheceu com uma estaca no coração, rodeado de crucifixos. A Igreja recebeu o corpo, para enterrá-lo, e de fato o enterrou, mas antes o corpo foi cremado, e só sobraram cinzas, que não mais poderiam se recompor, salvando assim dezenas de donzelas brasileiras.
Décadas depois, tendo feito vários serviços do bem à Santa Igreja, o antepassado de Ana Maria morreu em avançada idade. Mas não desapareceu do Brasil com sua morte: ele ainda aparecia para ajudar seus descendentes a combater os vampiros do Brasil, sempre que a necessidade surgia. E agora, havia milhares de vampiros assombrando os brasileiros. A queda da União Soviética e o fim do comunismo liberaram a migração desses monstros do leste europeu para vários países do mundo, e diziam que o próprio Conde Drácula, que se disfarçara em um dos chefes do partido comunista da Romênia, tinha se refugiado no Brasil.
E apenas um de seus descendentes poderia continuar a caça aos vampiros, e era Ana Maria, uma jovem mulata, muito inteligente e bonita, que vivia com os pais e gostava de ler muitos livros. Era uma moça normal em quase tudo. Quase, porque sempre tivera a impressão de ver espectros, e embora seus pais a tinham convencido de que era só sua imaginação, ela nunca se convencera por completo. Por isso, quando seu antepassado apareceu em seus sonhos e depois deixou bilhetes em sua mesa, em seu caderno, em seus bolsos, ela não demorara muito para se convencer de que era mesmo uma alma de outro mundo, e não um trote de suas amigas. Então, seu antepassado passou a se comunicar regularmente com ela, e agora estava tentando convencê-la a ser uma caçadora de vampiros. Mas, fora o fato de que ela conversava com o espírito de um antepassado longínquo e tinha visões, ela era como toda moça normal. E, como toda moça normal, tinha medo de vampiros.
- Não interessa se você tem medo! Você vai e pronto! Eu jurei para os padres da Igreja que eu e meus descendentes caçaríamos os vampiros e por isso você tem que ir!
- Os seus outros descendentes, os meus primos, eles não podem por que?
- Porque eles não têm sensibilidade para perceber o sobrenatural! Só você nasceu com esse dom e pode sentir minha presença.
- E por que você não reencarna para matar esses bichos?
- Porque não existe reencarnação. Mas chega de conversa fiada! Vamos logo matar um vampiro! No seu carro eu coloquei uma maleta com um crucifixo, uma estaca de madeira e um martelo. Eu vou te guiar até uma cripta. Quando chegarmos lá...
- Não vou!
- SE VOCÊ NÃO FOR, VAI LEVAR UMAS BOAS PALMADAS!
Ana Maria olhou para seu tretatetatararavô. Primeiro com surpresa, depois com uma expressão de desafio:
- Velhote! Você não tem nem um corpo de verdade! E já sou muito grande para palmadas há muito tempo!
E o antepassado de Ana Maria sumiu no ar.
Ela esfregou os olhos, não viu nada. Esfregou de novo, olhou para os lados, e não havia nada.
- Estou sonhando – disse ela – Não há tretatetatararavô nenhum! É apenas um delírio.
Então, sem que Ana Maria percebesse, um de seus chinelos se levantou e parou no ar, na altura do bumbum dela. Depois, voou velozmente em direção ao traseiro de Ana Maria, onde bateu com força.
- Aiiiii...! Ana Maria gritou, não tanto de dor quanto de susto. E mais assustada ficou quando se voltou e viu o chinelo parado no ar.
- Não é possível! Não é!
E então o chinelo voou para trás dela, se posicionando para dar outra chinelada, e a apavorada Ana Maria, rápida como um raio, sumiu pela casa adentro. Mas o chinelo voou pela casa atrás dela, e não foi possível enganá-lo. Ela se escondeu atrás de uma porta, mas o chinelo passou por cima da porta e acertou outra chinelada no bumbum dela.
- Aiiii...
Ana Maria correu para seu quarto, mas o chinelo a perseguia, e mais rápido, pois enquanto ela corria o chinelo acertava várias vezes seu bumbum, a ponto dela correr com as mãos protegendo seu traseiro. Quando entrou no quarto, viu que não tinha mais para onde correr, e encostou o bumbum na parede, para não apanhar mais. Mas o chinelo passou a bater nas coxas, do lado, e quando Ana Maria cobriu as coxas com as mãos para se proteger o chinelo passou a bater nas mãos, que era mais doloroso do que no bumbum.
- Ai, ai, para, ai... ô, meu tretatetatararavô ou sei lá o que meu, para, para, vamos conversar!
- Ah, você quer conversar? Então vamos conversar. Mas você vai matar o vampiro daqui a pouco, isso já está decidido e não tem conversa. Tirando isso, o que você quer conversar?
Ana Maria esfregou um pouco suas coxas e nádegas, que doíam. Mesmo por cima do tecido do calção dava para sentir que a pele estava quente. Não queria ir. Não queria, não queria e não queria. Mas de que ter mais medo, dos vampiros ou do estranho antepassado que fazia os chinelos voarem em direção ao bumbum dela?
O que você quer conversar?
Não adiantava nada Ana Maria pedir para não ir, ela resolveu tentar convencer o tretatetatararavô indiretamente, tentando enrolar.
- Eu vou, mas...
- Mas o que?
- Puxa, tretatetatararavô, eu vou, tenho que ir, então vou, mas...
- Está tentando me enrolar, é?
- Não! Claro que não! Mas é que...
- Que o que?
- Eu arrisco a vida, enfrento um monstro perigoso, mato o vampiro, missão cumprida...
- É, missão cumprida!
- Mas meu tretatetatararavô, e aí, eu não ganho nada? Eu acho que mereço alguma coisa, puxa, não é justo! Se o vampiro estivesse vampirando por aí por culpa minha, então sim, eu teria obrigação de consertar meu erro de graça, mas eu fiz algum vampiro? Está bem, você diz que ele tem que ser destruído e tem que ser por mim, mas eu acho que deveria ganhar alguma coisa, puxa...
Então, o tretatetatararavô de Ana Maria, que durante a conversa tinha estado invisível, apareceu e fez um gesto com as mãos. Um espelho grande se pôs perante Ana Maria e ela se viu vestida uma linda roupa, de seda, veludo e cetim, e jóias, muitas joias, todas lindas. Ana Maria parecia uma princesa de contos de fadas, e se olhou admirada, deslumbrada... era a roupa de seus sonhos, e seria a festa de seus sonhos, se estivesse vestida assim numa festa muito chique, chiquérrima...
- Ah, meu tretatetaravozinho....
- Gostou, hein? Se você matar um vampiro agora, na sua primeira missão, essas roupas e essas jóias serão suas.
O medo de Ana Maria diminuiu muito depois que o tretatetaravó dela falou isso.
- Bem, se vou ter que ir mesmo, e se vou ter uma recompensa tão boa...
- Sim, os céus recompensam quem cumpre sua missão, Ana Maria. Está em todos os livros sagrados.
- Está?
- Leia a Bíblia de sua mãe, por exemplo.
- E como acho o vampiro?
- Já disse: você entra no carro, eu te levo até o cemitério, lá eu te acompanho até a cripta...
- Você me leva, como?
- Siga seus instintos.
Ana Maria foi até seu carro, mas antes de sair do quarto, ela se lembrou de perguntar:
- E se na hora eu sentir medo e não quiser matar o vampito?
Quando Ana Maria falou isso, um chinelo se levantou e voou devagar na direção dela.
- Não, tudo bem, eu entendi, eu entendi!
Ana Maria ia saindo, quando, sem que ela notasse, o chinelo voou de novo. Ele foi até o teto, e de lá desceu com toda força no bumbum de Ana Maria.
- Aiiiiiii!
- Essa foi para você nunca mais me chamar de velhote! Trate-me por “senhor meu antepassado”! Entendeu?
- Ai, ai... - dizia Ana Maria, esfregando o bumbum – sim, entendi...
- Vamos, então!
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No carro, Ana Maria seguiu seus instintos: saiu da garagem da casa dos pais (ela morava com eles e tinha permissão para dirigir um dos dois carros deles, mas eles não estavam em casa) e foi pela estrada, sem saber para onde ia. Quando tinha que escolher entre dois caminhos, olhava para um, via um passarinho bonito, e ia por ele. Se não via nenhum passarinho, ela olhava para a esquerda, e ia pela esquerda, e fez assim até pensar: “Ah, fio muito pela esquerda, agora vou pela direita!”, e foi, sempre entrado a direita, até ver uma praça com estatuas de profetas bíblicos. Um deles apontava o dedo como se indicando um caminho, e Ana Maria seguiu na direção apontada, e foi por muito tempo em linha reta, até chegar numa mansão abandonada, muito grande mas mal conservada, que aparentava vários anos, e ao redor não havia viva alma, o que fazia o lugar ser muito assustador.
Ana Maria logo viu que o cemitério deveria está perto daquela mansão, seria muito apropriado. E, de fato, poucos metros depois, ela viu uma casinha estranha, que quando chegou mais perto viu que era uma capelinha, rodeada de lápides. Havia uma cerca rodeando a capelinha. Lá, deveria ser o cemitério, e naquela capelinha deveria estar cripta onde o vampiro repousava de dia, para poder assombrar, sugar o sangue de moças inocentes e matá-las, durante a noite.
Logo depois, ela viu uma entrada com um vigia cochilando. E pensou: “Devo entrar, sem permissão? A porta está aberta, ele cochila... Acho que foi meu tretatetaravó que adormeceu ele, vou entrar sim”. Ela entrou sem permissão, porque também tinha uma esperança: que o vigia acordasse e a mandasse sair dali, por entrar sem permissão num cemitério que parecia ser particular. Aí, ela teria uma boa desculpa para não ter que enfrentar o vampiro. Mas o vigia não acordou, e Ana Maria teve então certeza que o tretatetaravó dela o tinha adormecido, para que ela entrasse sem problemas.
E ela achou isso péssimo, porque o medo voltara. O cemitério era assustador, assim como a mansão e mais ainda a cripta. Estava de dia, e era bem claro, mas o lugar deserto, as arvores longas, escuras, secas e tortas, como se fossem pessoas se contorcendo de dor, presas no solo, amaldiçoadas...
Os galhos das arvores pareciam braços se esticando para agarrar Ana Maria e, quando o vento, se era mesmo o vento, fazia os galhos balançarem e se encostarem aos vidros do carro, ela se arrepiava e tremia.
Então, o carro parou. Não entendeu como nem porque o carro tinha parado, pois ela não freara nem mexera nas chaves, mas mesmo assim o carro parou. Ela ainda tentou dar a partida, não funcionava. Então, ela olhou para a janela e viu que estava em frente à cripta do vampiro. Uma cripta... ela nunca tinha visto uma cripta antes, só em filmes de terror...
A cripta ficava dentro de uma capelinha abandonada, uma pequena casa de pedra, muito branca, talvez de mármore. O fato é que ela parecia ter sido abandonada há séculos. Mesmo de dia, era escuro, por causa das sombras das arvores altas e tortas que enchiam aquele cemitério. E a porta da capelinha, que dava acesso à cripta estava coberta de poeira e teias de aranha.
O vento frio assobiava e fazia os galhos balançarem e projetarem suas sombras no chão, e Ana Maria tinha cada vez mais medo. Era muito assustador, de fato. Mesmo assim a moça ainda teve coragem para ir até a cripta. Deveria entrar nela e matar o vampiro com uma estaca no coração, como seu tretatetataravô tinha lhe explicado. Tremia, coitada... mesmo assim, ela conseguiu andar até a porta da capelinha.
“Lá dentro, a cripta, e na cripta, o vampiro! Lá dentro, a cripta, e na cripta, o vampiro! La dentro...” Ana Maria repetia para si mesma, para se dar coragem. Tinha uma grande cruz pendurada no pescoço, um martelo na mão direita e uma estaca na mão esquerda. Abriu, pois, a porta da capelinha. Ela era iluminada por uma janela, e se via sombras. Então, uma das sombras se moveu, e cobriu Ana Maria, que viu uma mão tentando atacá-la.
- Aiiiiiiii!
A moça saiu correndo da capelinha e foi até o carro. Não, ela não teria nem roupas finas nem jóias, mas precisava sair logo daquele lugar horrível, por sua própria vida, tinha um monstro lá, ele iria matá-la, ele...
E Ana Maria sentiu uma mão agarrar ela. Virou-se, era seu antepassado.
- Ah, tretatetataravô, graças a Deus é você. Desculpe-me, desculpe-me, mas não posso! Eu tenho medo, por favor, não me obrigue, não... aí, o que é isso?
Isso era o tretatetataravô de Ana Maria abaixando as calças dela, e logo depois as calcinhas. Ele a despiu da cintura para baixo, e então foi até um banco de pedra que ficava entre duas lápides, onde os visitantes do cemitério deveriam descansar, muitos anos atrás, e que naquele momento estava meio encoberto pela relva e por arbustos, sinais da falta de cuidado. Mas para o que o tretatetataravô de Ana Maria queria fazer o banco servia.
O tretatetataravô de Ana Maria vinha carregando ela no colo, como se fosse uma noiva, apesar dos protestos de sua descendente, até o banco, onde ele se sentou, e deitou Ana Maria em seu colo, com o bumbum para cima. Era um belo bumbum, mais branco que o resto do corpo, pois embora Ana Maria fosse mulata ela não costumava se bronzear de fio dental e não mostrava suas nádegas na praia ou na piscina. Além do mais, ela estava pálida de medo, primeiro do cemitério, depois do vampiro, e agora da surra que levaria, e isso clareou ainda mais seu bumbum liso e redondo. Bem que Ana Maria tentou escapar, mas ela estava presa com firmeza em cima das pernas do tretatetataravô, por uma força que parecia ser sobrenatural, pois não conseguia alcançar o bumbum para protegê-lo com as mãos, nem pular fora do colo do tretatetataravô por mais que esperneasse. Só podia mexer os braços e as pernas, e assim ela se parecia ainda mais uma criança pequena no colo do papai ou do vovó, com o bumbum de fora, esperando seu castigo.
Então, vieram às palmadas. O bumbum de Ana Maria recebeu, completamente desprotegido, vários golpes.
- Aiiii... pare, pare, por favor, meu tret... senhor antepassado, por favor, pare! Ai, ai...
- É o premio de sua covardia! – disse o antepasssado de Ana Maria, e depois ele se calou, se concentrando nas palmadas.
O tretatetataravô da Ana Maria batia forte, e mantinha um bom ritmo. Suas palmadas doíam muito para um fantasma do século XVI. Ele batia sempre em um lugar diferente, na parte de cima e na parte de baixo da nádega esquerda e da nádega direita, às vezes também na parte de cima das coxas, mas essas vezes eram mais raras, as palmadas atingiam principalmente o centro do bumbum da caçadora de vampiros. Em certo momento, Ana Maria parou de tentar escapar ou deter a surra. Parou de se debater. Baixou a cabeça, cansada e chorando, um choro baixo, sentido. Foi quando seu tretatetataravô parou. Ele pegou de volta a estaca e o martelo, que tinham caído, e entregou a Ana Maria, dizendo:
- Agora, vá matar aquele vampiro!
Chorando ainda, Ana Maria foi até a cripta. Ainda se voltou para seu tretatetataravô, mas ele já sabia o que ela queria e disse:
- Não, vai sem calças e sem calcinhas! Da próxima vez você saberá que não se deve fugir.
E assim, com o bumbum de fora, Ana Maria entrou na capelinha e foi até a cripta. Estava frio, mas ela não ligava para isso, o calor que vinha de seu bumbum aquecia bem o resto do corpo. Além do mais, ela estava com muita vergonha agora, ainda bem que no cemitério não havia ninguém. “Tomara que aquela vigia não acorde logo agora”, pensava ela. Certamente seria muito humilhante ser vista com o bumbum de fora por um estranho, e sem roupa ou toalha por perto para se cobrir. Pior ainda, porém, eram os hematomas que marcavam suas nádegas. Mesmo não sendo um bumbum muito branco, dava para qualquer um ver que tinha sido ferozmente castigado com várias palmadas. Felizmente, o vigia não acordou, e Ana Maria foi até a cripta, onde o maldito vampiro dormia.
Ela sentia uma coisa muito estranha: ódio pelo ser das trevas. Admitia, antes, que era preciso matá-lo, mas ela não tinha tido ódio até agora. É que agora havia um motivo: por causa daquele vampiro, ela tinha apanhado no bumbum, e tinha sido uma surra forte, ela com certeza ficaria sem poder sentar por vários dias. E por isso odiava o vampiro.
Isso facilitou sua missão. Quando entrou na cripta dentro da capelinha, ela removeu com facilidade a tampa do caixão (certamente o tretatetataravô a tinha ajudado) e posicionou a estaca no coração do vampiro com a mão esquerda. A direita golpeou a estaca com o martelo, e logo a madeira penetrou no peito do monstro. Muito sangue começou a jorrar do peito do vampiro, manchando sua camisa fina, de gentleman, e ele abriu os olhos, em direção ao céu, como se entregando, enfim, sua alma a Deus, depois de anos e anos como uma aberração assassina na terra dos homens. Ele tentou ergue os braços e atingir Ana Maria, mas o crucifixo no peito dela o fez cobrir os olhos. Ele estava enfraquecido, incapaz de se defender dos golpes do martelo e da estaca. Depois de cinco minutos, o teto da capelinha caiu, sem atingir Ana Maria, mas inundando a cripta de sol, e isso destruiu de vez o vampiro. Ele deu um ultimo grito de desespero, antes de seu corpo começar a se desmanchar. Ana Maria percebeu que não precisava mais continuar a golpear a estaca com o martelo, e se afastou. O sol fez o vampiro virar cinzas, terminando com uma maldição para sempre.
Quando Ana Maria ia saindo da capelinha, ela encontrou suas calças e calcinhas presa em um dos galhos da arvore, perto do carro. Ela se vestiu, e seu bumbum ardeu ao contato com o tecido. Mas tinha acabado, ela tinha matado o vampiro e agora ia para casa. No carro, ela viu que seu tretatetataravô tinha deixado uma almofada, para ela se sentar. Bem que ela estava precisando! Com uma almofada protegendo seu bumbum, portanto, Ana Maria voltou para casa.
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Quando Ana Maria chegou em sua casa, sua mãe estava a esperando.
- Onde você foi, filha?
- Fui visitar uma amiga, mamãe.
- Ah... bem, alguém deixou um pacote aqui para você.
- E onde ele está?
- No seu quarto.
De fato, lá estava um pacote, e dentro dele estava um lindo vestido de seda, o que Ana Maria tinha visto no espelho. E jóias, muitas jóias, pérolas, diamantes, safiras e rubis... com o vestido, um bilhete:
“Cara descentente,
Eu sei que você deve está furiosa por ter apanhado no bumbum com seu tamanho. Isso é bom: a raiva espanta o medo. Você deve saber já, mas de qualquer forma eu digo: sua missão de hoje foi à primeira, logo você terá que sair mais vezes para matar mais vampiros. E saiba, o de hoje foi até um dos mais fracos, não quisemos fazê-la enfrentar um mostro antigo e poderoso como Drácula, por exemplo. A idéia é te treinar com os mais fracos, para que você enfrente depois os mais poderosos. Se eu sinto alguma culpa, algum remorso? Sim, um pouco, afinal não é sua culpa se há vampiros e qualquer moça normal teria medo de matar um deles, como você teve. Lamento, mas eu tenho uma escolha: ou deixo os monstros vivos, aterrorizando donzelas inocentes e criando mais criaturas malditas como eles, ou te obrigo a matar um por um, mesmo que precise te encher o bumbum de palmadas para você perder o medo. Assim, escolhi a segunda alternativa. Claro que seu bumbum é importante. Mas a vida das vitimas dos vampiros é mais ainda.
Eu vou lhe dar um conselho, para seu bem: esqueça as palmadas ou, se não puder esquecer, aprenda a gostar. Divirta-se com o vestido e as jóias, vá a muitas festas. Deixar de caçar vampiros, tão seco, você não irá.
Desejando muito bem a ti, apesar de tudo,
O senhor antepassado”
Ana Maria rasgou em picadinhos o bilhete e sentiu vontade de fazer seu antepassado engolir todo papel. Mas logo a raiva passou, quando reparou melhor nas jóias e no vestido. Ela o vestiu, e as jóias, e se olhou no espelho. Estava linda, deslumbrante. Estava tão linda que esqueceu das palmadas e se sentou, pulando logo em seguida com uma cara de dor, e esfregando o bumbum com uma expressão meio magoada... por mais linda que estivesse, ainda era cedo para poder se sentar sem almofada.
Mar 2 jun 2009
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