casadaspalmadas

 

Um mês se passou, desde que o Tiago havia me dado aquelas palmadas. Minhas nádegas há muito haviam voltado a cor rosa claro, natural.

 

Nesse tempo, eu saí menos de casa, passei a me concentrar mais nos estudos. Meus colegas de farra estranharam minha ausência, e eu dizia que precisava recuperar algumas matérias, e outras desculpas pra não sair.

 

A verdade é que desde que conheci Tiago eu achava as diversões da noite uma coisa vazia, sem sentido... e os moços que saiam comigo não me atraiam mais de jeito nenhum. Nunca tive muito interesse por eles, na verdade. Mas depois que Tiago pulou em cima de mim, me deitou no colo pra me dar aqueles tapas no traseiro, eu simplesmente não achava possível um deles ser homem pra mim. Eu conversava com eles, ouvia a voz deles, e instintivamente pensava no Tiago, que tinha uma voz ao mesmo tempo firme e calma, pausada e forte, no tom certo. Os via com suas namoradas, elas criticando eles por qualquer coisa, eles aceitando porque acabariam largando elas mesmo, me lembrava então do pai da Graça me alertando que eu estava passando dos limites com ele, e pensava que o Tiago não aceitava desaforo assim fácil por dar muito valor ao que dizia as pessoas que conviviam com ele – ou que podiam vir a conviver...

 

E um dia a Graça me visitou. Era sobre um outro trabalho que faríamos. Nós nos encontrávamos muito na universidade, nos cumprimentávamos, mas eu tinha vergonha dela e ela de mim. Tanto que me espantei que ela viesse me visitar, mesmo estando nós duas no mesmo grupo novamente.

 

- Pois é, Ceci. Sinto falta de conversar contigo, da gente estudar junto, como antes... o pessoal também tá sentindo falta, cê nunca mais saiu... que cê não queira mais intimidade comigo até entendo, mas eles nem sabem de nada...
- É... bom, eu tenho muita matéria pra recuperar, por isso saio pouco – na verdade não saia mais nada – mas cê pode aparecer na minha casa sim, se for pra estudar...
- Ora, e o que poderia ser?

 

Boa pergunta. Não podia dizer que podia ser pra falar do pai dela, que eu sim queria falar do Tiago...

 

- Cê também, Graça, nunca mais quis puxar conversa comigo... me encontra na faculdade e faz que não me vê, quando tem que falar comigo é só "oi, tudo bem e tchau"... foi teu pai que te disse pra me evitar?
- Papai disse o contrário, pra eu estreitar minha amizade contigo. Disse que cê tem jeito de amiga fiel e além disso é uma donzela, coisa rara, nos dias de hoje... cê agradou ao papai.

 


- Agradei é? – involuntariamente sorri, mas logo meu sorriso se desfez e eu fiquei emburrada – É muito cínico aquele velho...
- Não sei se ele é cínico ou simplesmente sabe das coisas...

 

Não respondi, e a Graça me perguntou então:

 

- Cê é virgem mesmo, é Ceci?
- Ora... cê tem o que com isso?
- Nada... mas acho estranho... cê vivia rodeada de menino, vivia bebendo nas boates, pelo menos até conhecer papai .. e teus pais moram lá na capital... eu ser virgem ainda vá, não gosto de noitadas, saí da roça há pouco tempo, e lá quando um garoto se interessava por mim meu pai olhava ele de um jeito que o pobre faltava se borrar todo... ninguém queria problemas com o velho não... até hoje, quem conhece o papai não quer se meter comigo, só arranjei namorado aqui porque ele não conhecia o velho e quando conheceu já estava louco por mim... mas eu não entendo é sua virgindade... ninguém tá aqui pra te controlar, cê sempre foi agitada e espertinha... só foi fazer papel de boba com papai...
- Se eu for virgem!
- Ah, isso é! Só o jeito que cê ficou quando comecei a falar desse assunto... papai sabe das coisas...

 

O que mais me indignava era o jeito dela falar e sorrir pra mim, a mesma calma do pai dela, sorria do mesmo jeito, e isso me deixava doida. Corri pro meu quarto e me lembrei que estava na minha casa. Então voltei pra sala. A Graça estava rindo com tanta franqueza e tanta falta de malícia que eu não pude sentir raiva dela, mas ainda fiz um esforço pra parecer emburrada, e perguntei pra ela:

 

- Bom, cê veio pra cá pra estudar ou pra falar do meu cabaço?
- É virgem, confessa!
- Tá, tá bom, sou! Satisfeita? E cê quer o que, estudar ou falar do meu cabaço?
- Na verdade eu agora quero falar da minha vida com papai, o que tenho certeza cê tá doida pra ouvir...

 

Fiquei pasma.

 

- Sobre o que, Graça? Mas eu tenho um trabalho a fazer, cê também...

 

- Sobre minha vida na roça, sobre papai... o trabalho pode ficar pra amanhã, não pode? Cê quer ouvir, não quer?

 

Bom, eu estava mesmo a fim de ouvir falar sobre o pai dela. Ela então me contou umas histórias interessantes da vida dela.

 

"Pois é Ceci, lá na terrinha eu não tinha vez não. Eu tinha que estar em casa logo que anoitecia, se tivesse um baile eu podia ficar lá até as 10 da noite, e se alguém dissesse que eu dancei muito com um determinado moço lá vinha papai, me dava uma pisa e uma bronca no pobre. As broncas do papai eram piores que as surras, tanto que quando ele me batia eu dava graças a Deus porque depois de me bater ele ficava uns meses calado.

 

E o pior é que os mocinhos também iam nessa, tinham medo do velho, não me paqueravam nem me cantavam por causa do papai. Por vezes, eu queria ficar até tarde num baile, e depois de certo horário eles nem mais dançavam comigo, porque sabiam que o velho podia aparecer a qualquer hora, puto da vida, e brigava com quem estivesse comigo. Além de me bater, é claro.

 

Um dia, o papai me bateu pra valer, e minha bunda ficou cheia de hematomas. O papai é um cabloco forte, até hoje, de montar cavalo e do trabalho braçal na lavoura, que ele tinha e tem muitos empregados mas supervisiona tudo pessoalmente e por vezes faz trabalho braçal, além de se alimentar bem e viver em cima de cavalo, então é um homem forte."

 

A quem ela o dizia! Até parecia que minha bunda não sabia da força do Tiago!

 

"Eu tinha estado em um baile, e passara do horário, e ninguém queria dançar comigo. Eu fiquei lá, insistindo em procurar um par, e os meninos ficaram com raiva de mim, sabe, porque eu estava expondo eles ao risco de ganharem uma briga com o papai.

 

Um deles, que era espetacularmente belo, dançara uma vez comigo e eu gostei tanto do toque dele que fiquei sorrindo para o ar, pensando nele, mas todos viram isso e me disseram:

 

- Ele é noivo de outra, cê tá gostando do noivo de outra, seu pai vai te dar é uma pisa no rabo, e das violentas!

 

Mas eu não liguei. Pelo contrário, ele saiu do baile e eu fui até a casa dele, queria saber o telefone dele, e marcar encontro para mais tarde.

 

Pois olha meu azar: papai estava na casa do vizinho dele, tinha vindo me pegar que passara do horário, já estava puto da vida, me viu na porta da casa dele, e veio me perguntar o que era aquilo. Duplo azar, a noiva do menino estava dentro da casa, e sabia que eu queria pegar o noivo dela, e não gostara nada dessa história. Saiu puta da vida, e viu papai bravo comigo enquanto eu tentava dar uma desculpa qualquer, e ela não só desmentiu o que eu tentava impingir ao velho como disse que eu fiquei secando o noivo dela o baile inteiro, que eu sabia que ele era noivo dela, e o seguira até a casa dele pra marcar encontro, disse o diabo de mim.

 

Papai só me olhou e disse pra eu esperar ele no carro, que ele ia me levar pra casa. Eu conhecia o jeito do velho e fui emburrada pro carro, já sabendo: ‘vou apanhar, droga!’

 

2 minutos depois ele entrou no carro. O olhar era o famoso olhar ‘cê-vai-ver-quando-chegar-em-casa!’, que eu conhecia bem...

 

Mas me enganei em parte. Não foi preciso chegar em casa. No caminho, no meio daquele mato, ele me disse:

 

- Descí du carru.

 

Desci, pensando: ‘será que vai ser aqui, meu Deus, se passa outro carro vai me ver numa tão constrangedora situação...’

 

E o velho me disse:

 

- Cê vai é pegá um gaio, limpá u gaio, i integrá na mia mão, qui vô ti dá uma bela duma pisa di vara, i será aqui!

 

Chorei. Olhei pro papai, suplicando tanto no olhar, e ele disse:

 

- Si prifirí, dexa chegá im casa, qui tiru u cintu, i ti batu nas costas comu nunca bati antis im filo meu!

 

Com tais palavras, desisti de pedir qualquer coisa. Papai dava nas meninas de mão ou de chinelo, e nos moços de cinto. A surra de cinto era horrível, os mocinhos ficava até uma semana com as costas inchadas, e chegavam a sangrar. Um corretivo no bumbum era sempre melhor que nas costas, dói menos e passa mais rápido. Conformada, fui atrás de um galho.

 

Aproveitei pra fazer xixi. Estava apertada, e não queria me urinar na frente do papai, o aconteceria se não me aliviasse.

 

Não sabia, não perguntei se eu ia apanhar deitada no colo ou fora do colo, de joelhos, ou em pé... se deitada no colo, eu pegaria uma vara pequena, se não seria uma vara grande. Na dúvida, peguei uma vara grande, que ele podia partir ao meio se fosse o caso.

 

Também era uma vara flexível e resistente, se eu tentasse ser esperta e pegasse uma frágil, ele deixaria pra me dar a surra em casa e lá seria de cinto nas costas, seria pior do que surra de vara no bumbum.

 

Ele pegou a vara, balançou um pouco no ar, testou a dureza na mão, e me mandou virar as costas e levantar a saia.

 

- Papai, e se passar um carro?
- U motorista vai ficá sabendu qui moça qui passa du horáriu na rua, dá im cima du noivu dotra, e inda tenta mintí pru pai apanha na bunda di vara! Preferi apanha di cintu nas costas im casa?

 

Bom, eu virei de costas e levantei a saia.

 

Com o primeiro golpe, VAPT, eu quase sai da posição, mas me contive, fechei os olhos, mordi a língua, apertei os punhos enquanto segurava a saia levantada, e levei os outros golpes, meu corpo gelado de vergonha, só as carnes ao redor das varadas se esquentavam, mas era um calor que se espalhava por todo o corpo, que em si me fazia bem, embora a dor fosse horrível.

 

VAPT VAPT VAPT

 

Durante toda a surra fiquei em pé, parada, com a saia levantada. Minhas calcinhas cobriam toda bunda, e também o comecinho das coxas, mas sob os golpes de vara o tecido foi se rasgando, de forma que após 10 varadas já nada restava pra me proteger, e eu apanhei na bunda pelada. Não tive coragem de tampar o bumbum com as mãos, nesse caso eu deixaria a saia cair e papai continuaria a surra em casa, de cinto. Seria pior.

 

VAPT VAPT VAPT

 

No intervalo entre uma varada e outra, eu sentia o vento alisar minha bunda. Era bom também, aliviava a dor e me dava um estranho prazer... mas a dor de apanhar era tão grande que na hora não atentei pra isso, pelo menos não de forma consciente.

 

VAPT VAPT VAPT

 

E ele batia... não sei quanto tempo durou, mas quando terminou eu sentia uma liquido grosso e morno escorrendo no rabo... era sangue. Papai me autorizou a baixar a saia e sair da posição. Passei a mão de leve no traseiro, ela voltou suja de sangue... as lágrimas que eu continha explodiram vendo aquilo. Papai se voltou pra mim e mandou eu engolir o choro. Eu engoli.

 

Entrei no carro e me ajeitei como pude no banco. Encostei as costas na poltrona de forma que o peso do corpo não forçasse o couro da minha bunda contra o couro da cadeira, ficando portanto numa posição muito esquisita.

 

Logo depois da surra cruzamos com um carro. Eu dei graças a Deus que a surra não durou muito, foi menos de 10 minutos, embora eu não possa precisar quanto tempo.

 

Quando cheguei em casa mamãe me viu tão abatida e triste que tentou me consolar, mas o papai a proibiu, disse que eu estava de castigo e me mandou pro quarto. Foi deitar, de bruços, é claro, e por muitos dias dormi de bruços. Olha Ceci, eu te contando esta história, me da vontade de alisar meu traseiro, que dói..."

 

- Cê tinha quantos anos?
- 17.
- Cê podia tê-lo processado!

 

A Graça olhou pra mim, e disse:

 

- Bom, o que eu fiz foi procurar de novo o moço, o noivo da outra. Peguei o telefone dele e tentei ligar da casa de uma amiga, pro papai não me pegar. Passei a tomar mais cuidado. Ele não quis nada comigo, disse pra eu parar de ligar pra ele, que senão ele ia contar isso pro meu pai, pro meu pai não pensar que ele estava me dando bola, pro velho saber que eu sim que perseguia ele. Então parei de ligar pra ele. Passei a tomar mais cuidado nos bailes, e tudo mais. As vezes eu me descuidava e fazia alguma coisa errada, e ele me pegava na palmada, quase sempre traseiro vestido, e quase sempre com a mão, como fez c’ocê... mas na ultima surra, que te contei, ele me bateu de chinelo na bunda nua, mas foi porque era caso grave, namorar escondido e ainda mentir pra ele, sem outro motivo que não vaidade, como nessa surra dos meus 17 anos eu fiquei no baile até depois do horário e ainda quis me meter com o noivo de outra... nos dois casos e em outros eu preferi dar o assunto por encerrado e esquecer tudo, como alias o papai também fazia...
- Esquecer... puxa, uma surra dessas nessa idade é uma humilhação...
- Bom, papai te fez o mesmo... mas cê não foi pra policia, foi?
- Ora... tive vergonha, e não quero que se espalhe, e pode acabar não dando em nada...
- Penso igual.
- Mas uma coisa que eu também não faria é continuar a conviver com ele, nem depender dele pra nada...
- E por que não?
- Cê não tem orgulho mesmo não, né Graça!

 

A Graça me olhou com ironia.

 

- Ceci, querida, papai é um homem muito legal, ainda mais agora que cresci. Ele me ajuda e muito nessa vida. Ele não é nenhum tirano. Não humilha ninguém. E eu posso ter a vida que quiser, com limites, que no fundo até acho razoáveis. Papai tem umas idéias bobas, mas eu tomando alguns cuidados não me acontece nada. Vou tomar mais cuidado com o meu namoro com o Roberto daqui pra frente. Resolvido meu problema.

 

Ficamos caladas, uma olhando pra outra.

 

- Cê não gostaria de visitar minha terrinha, no meu aniversário, que também vai dar num feriado? Só pra desfazer essa má impressão que cê tem do papai? Cê vai ver que ele não é nenhum animal irracional. É um homem que teve uma vida difícil pra criar 12 filhos, ainda mais depois de viúvo. E que quer que seus filhos se comportem e sejam prósperos na vida. As vezes perde a paciência, como todo mundo...
- Cê ainda me chama pra visitar teu pai, depois desta?
- Não, te chamo pra minha festa de 21 anos. Talvez encontre o papai, mas ele não fará nada se cê ficar na sua...
- Bem, vou, mas avise teu pai, viu, pra ele não criar problemas...
- Problemas? Ele vai é achar bom, te ver. Ele te achou uma virgem encantadora...

 

Fiquei vermelha. A Graça caiu na gargalhada.

 

- Pois é, minha amiga não quer ir muito mais vai... – ela disse com ironia – é uma boa amiga...

 

"Será que ela viu que estou doida pra ver o Tiago de novo?" – pensei, quando ela se foi.

 

Mas eu não sabia o que sentia por ele, exceto vontade de ver, curiosidade por ele, queria saber mais, que homem ele era afinal de contas...

 

E meu Deus, a história que a Graça me contou me deu uma vontade de me esfregar... meu cabaço estava molhadinho!... fui pro banheiro, tirei a roupa, me olhei me masturbando, gozei pensando na história da Graça, a bunda dela levando varadas ao ar livre, nua bunda debaixo da lua, surra de vara de marmelo no bumbum pelado... ela segurando as saias, as calcinhas dilaceradas pelos golpes de vara VAPT, toda emburrada pra não chorar... tinha tempo que não me masturbava, e nunca antes eu havia gozado assim...

 

Gozei e olhei pro meu corpo nu, pensando com ternura: "cabaço, cabaço, cabaço..." não era mais a mesma mulher. Não tinha mais vergonha de mim mesma. Que homem realmente era o pai da Graça? Eu logo saberia...

Eu e a Graça fomos de carro para a casa dela. Conversamos sobre o que tinha acontecido e sobre o que eu ia falar com o pai dela...

- Não, se eu não tivesse visto seu rabo eu não acreditaria... uma jovem adulta, nível universitário!
- Ai Ceci, isso passou!

Meu nome, ainda não disse, é Ana Cecília, apelido Ceci.

- Não, ninguém tem o direito de ser bruto com ninguém... não interessa a ele se tu namora ou não... e que interessasse! Ele que se negue a cuidar de ti, se não é obedecido e faz questão de ser obedecido... mas que não te bata!

A Graça ficou um tempo olhando a janela, depois disse:

- Ceci... pelo menos não estoure com ele logo de cara... converse, procure conversa numa boa, sem ofender... eu vou tentar falar com o papai pra ele não estourar contigo tá bom? Vai ser difícil mas vou tentar.
- NÃO! Cê fica no teu canto que eu sei o que falar! Faltou é aparecer alguém pra enfrentar ele!

A Graça suspirou...

Quando chegamos, ela quis descer do carro primeiro, mas eu disse:

- Estaciona o carro pra mim, Graça? Eu não conheço a rua direito...

Ela me olhou meio surpresa, meio decepcionada. Esperava descer antes de mim, pra falar com o pai dela.

Desci, ela pegou o volante e eu fui até a casa dela. Vi um homem de cabelos grisalhos, sério e com postura ereta, na porta da casa dela, olhando a Graça estacionar, e eu deduzi que era o pai dela. Fiquei um tanto surpresa, era (e é) um senhor bonito, apesar dos cabelos grisalhos, bem alto e forte, apesar de ter sem dúvida mais de 50 anos. Como ele olhava a Graça, eu reparei na maneira dele olhar e vi que tinha olhos azuis. Ele olhava com atenção, mas sem ferocidade, como pra ver se a Graça estacionaria direito. Eu esperava um bronco, mal vestido, mal barbeado e mal penteado, de olhar frio e feroz. Ele não era isso...

- O senhor é o pai da Graça?
- Sou! – ele se virou pra mim.
-E sabe que o que cê fez com ela dá cadeia?

Ele primeiro ficou surpreso. Depois cruzou os braços e me mediu de cima a baixo, olhando meus olhos. Eu fiquei encarando ele, com cara de má, me preparando para uma explosão, a que eu responderia com outra igual, mas não, ele fez foi dar uma risadinha e balançar a cabeça. A Graça apareceu e ele se perguntou:

- Ela é sua amiga, Graça?
- É colega minha, papai, eu acabei de fazer um trabalho na casa dela...
- É simpática, essa donzela... – ele havia voltado a me olhar nos olhos e ao falar "donzela" sorriu maliciosamente...

Eu tremi de raiva. Quis responder, mas a Graça se antecipou e me convidou a entrar.

- Cê já disse o que queria, não é? Agora chega, vamos entrar! – disse ela ao meu ouvido.
- Não, eu ainda não disse tudo! – e me virando para onde o pai dela tinha estado – você...

Mas o pai de Graça já tinha entrado e nos esperava lá dentro. Então entramos.

- Cê tá seguro, não é, de que vai ficar por isso mesmo!
- As chineladas qui dei nu rabu da Graça?
- E não se envergonha!
- Ora, si ela num si invergonhô di ti contá...
- Ela não me contou, eu que descobri. E tomei a decisão de cobrar satisfação de você.
- Pois ti dô satisfação! Eu sustentu minha filha aqui. Ela si cumprumeteu cum minhas cundições. Num quis cumprir e inda pensô qui pudia mi inganá. Eu a castiguei. Si ela num concorda, podi voltá pá roça. Ou tentá vivê aqui pur conta dela. Ou sua, si quisé. Satisfeita?

O que mais me indignava era a calma com que ele falava. Ficamos nos encarando. Ele então analisou minhas formas, minhas curvas, e eu fiquei vermelha. Ele deu uma risadinha, e eu, gaguejando, perguntei:

- Seu nome, qual é?
- Tiago.
- Não falamos do principal, Tiago. Se "você" - frisei o "você" - não concorda com alguma coisa da conduta dela, pode abandoná-la a própria sorte, se for alguma coisa ilegal tem não só o direito, mas até o dever de denunciá-la, mas não tem o direito de agredi-la fisicamente, nunca, nunca, de jeito nenhum!
- Pois, eu olho a Graça, ela num mi pareci muito ferida. Gostu muitu da minha filha i num queru largá ela nu mundu! I queim diz qui num tenho direitu de insiná ela a respeitá os cumprumissus qui ela assumiu cumigu?
- A lei! Se fomos pra delegacia vamos resolver esta questão.
- A questão foi resovida: a Graça errô, eu bati nu rabu dela e assunto incerradu!

O que mais me impressionava era o jeito dele falar: ele não se envergonhava do sotaque nem das suas origens. Pela maneira dele ver o mundo, não tinha feito nada de grave. Sequer pensava no assunto. E seu tom, calmo, pausado, sem arrogância mas sem temor, firme sem ser agressivo, enquanto eu, ao contrário, tentava encarar com uma fúria que a medida em que ouvia era cada vez mais falsa e forçada...

- Concordo com papai, Ceci. Vamos tomar um café e falar de outra coisa.
- Vamô, filha. Servi u café pá mim e pá tua cunvidada!
- Você não entendeu... pensa que encerramos o assunto entre nós?
- Cum minha filha já tá incerradu. I c’ocê intindi u siguinti: bati na minha filha, cê num gostô, qué si metê cumigu, mas eu num queru brigá c’ocê qui num sô seu pai, istamus cunversadus!

Como ele não queria conversar mais sobre o assunto, eu usei isso pra atacá-lo:

- Veja Graça, ele não quer me enfrentar!
- Vejo que cê quer confusão! Se é por mim isso que cê faz, pode deixar, cê provocando o pai deste jeito é pior pra mim e pra ti.

A Graça falava ao meu ouvido, mas eu falava bem alto para ele ouvir. Mas ele simplesmente olhou pra mim, me mediu de novo, balançou a cabeça e olhou o café que a Graça tinha trazido.

- Veja que ele sequer tem coragem de me encarar!
- É qui cê é muitu bunita, si olhá muitu pr’ocê é capaiz d’eu ficá ti gostandu...
- Pronto Ceci, já tá bom, agora vamos tomar café...
- Ele não tem coragem de encarar quem enfrenta ele, só tem braço pra moça submissa!

O Tiago me olhou nos olhos, endireitou o corpo, sorriu e disse:

- Cê teim uma língua peçunheinta, um rosto lindo quando fica zangada, e um bumbum bom pá apanhá! É meló num mi provocá mais!

Meu Deus, eu tremi de ódio, fiquei vermelha feito uma maçã, mas não sei onde arranjei coragem de dizer:

- Cê sabe que comigo isso dá cadeia, que eu não sou uma cretina covarde feito a Graça e tem medo de mim...

O Tiago deu um pulo em cima de mim e caímos no sofá que estava atrás. Daí ele me levantou e me pôs de bruços no colo dele, dizendo:

- Nunca bati im filhu dus otrus, mas tambeim nunca uma moça veiu im minha casa pá mi ofendê ansí!
- Ora seu... AI!

O Tiago me mandou um bocado de tapas, descendo a mão forte no meu rabo. Por sorte não havia ninguém na vizinhança, pra ninguém me ver em tão constrangedora situação, que o barulho dos tapas e dos meus gritos de protestos certamente dariam o que falar por muito tempo.

A Graça ainda tentou segurar o braço do pai dela, mas ao fazer isso levou um empurrão tão forte que foi de encontro a parede e ficou grogue. E o Tiago continuou me batendo no traseiro.

Quando finalmente acabou minhas nádegas estavam quentes feito carne na frigideira. Eu fiquei pasma olhando para o Tiago. Fui alisar o bumbum mas doeu tanto que deixei escapar um gemido e tirei a mão na hora. Tinha vontade de chorar, mas segurei as lágrimas. Pensei em partir pra cima dele, mas só dei conta de ficar olhando o Tiago com cara de besta. A Graça quis falar alguma coisa com o pai dela, e o Tiago deu-lhe uma encarada tão forte que ela achou mais prudente ficar quieta. Então ela se virou pra mim e disse:

- Bom... cê e o pai já conversaram... quer tomar café?

- Eu fiquei parada, e ela me encheu a xícara de café. Eu peguei a xícara, e o Tiago olhava sorrindo pra mim. Fiquei com raiva, e joguei a xícara nele. A Graça pôs a mão na boca, e eu fiquei encarando o Tiago. Não sei o que esperava, mas com certeza não esperava que ele estourasse de ri na minha cara, como acabou fazendo.

- Graça, sua amiga é uma donzela muitu simpática – disse ele, rindo – achu meló cê levá ela daqui pá depois ela voltá mais calma.
- Boa idéia, papai. Vamos Ceci, depois a gente conversa.

Eu me deixei levar pela Graça. Entramos no carro e ela foi dirigindo. Fiquei com cara de besta até entrar no carro, quando então sentei no banco de passageiro, e senti uma grande dor e uma ardência nas nádegas e aí eu comecei a xingar o Tiago de tudo quanto foi nome. A Graça me cortou dizendo:

- Ora essa, meu pai é um homem muito decente! Cê é que veio se meter onde não tinha que se meter!
- Então ele tem direito de me bater, de te bater, de bater em qualquer uma...
- Mais direito que cê tem de ir pra casa dele criar caso ele com certeza tem! E vamos parar por aqui, tá bom? Cê quer continuar minha amiga, então pare de ofender o papai!

Fiquei calada desse momento até chegar em casa. E antes que eu entrasse entrar em casa a Graça me disse:

- Olha Ceci... vamos conversar depois, quando cê tiver mais calma, tá bom?
- Tá, tá bom...

Entrei em casa, e ela voltou pra casa dela de ônibus. Não sentia mais raiva, nem vontade de brigar, só cansaço, e deitei na cama. Mas antes tirei a roupa, e meu Deus, vi minhas nádegas, eu fiquei bem vermelhinha...

Deitei de bruços, e quando passava a mão de leve em meu próprio traseiro parecia que estava pondo minha mão numa chapa quente... mas também comecei a ficar excitada, com minha vulva molhada...

Procurei reprimir este desejo. Me levantei, tomei um banho frio, lanchei alguma coisa, voltei pra cama, e logo adormeci.

Sonhei que o Tiago me batia e eu fazia uma cara safada, satisfeita, e me masturbava enquanto ele me dava palmadas. Acordei quando gozei. Minha mão estava toda melecada. Minha outra mão estava alisando minha bunda ardida e vermelha. Acordei sem entender nada. Só que eu não tinha raiva de verdade do Tiago. Nos outros encontros eu ficava de cara fechada mais por turra que por qualquer outra coisa. E o Tiago, que sabia muito bem que eu fazia assim por turra, ria de mim, com calma, e me desarmava com seu sorriso e sua calma comigo. Ainda tenho muito que contar, antes do nosso casamento...

A vida de universitária não é um paraíso, mas tem suas compensações. É verdade que os livros são caros, tem taxas disso, daquilo, e daquilo outro, os professores vivem passando trabalho pra gente, mas em compensação geralmente conhecemos pessoas interessantes.

Me formei numa faculdade de uma cidade do interior, da FCV, Fundação Coronel Valentino - mas desde já adianto que esse famoso latifundiário, exportador de carne, lã, café e laranjas, ele nada tem a ver com essa história. Podemos no entanto considerá-lo um benemérito da população local, já que graças a ele muitos jovens que seriam privados de formação superior ou teriam que viajar para a capital podem se formar na região onde nasceram, e depois trabalhar numa profissão universitária.

Uma das jovens que graças a Deus tiveram essa oportunidade se chama Graça, e é minha amiga. O pai dela é uma das pessoas interessantes que conheci, alias é hoje meu marido. E é um ótimo marido, apesar das diferenças de nível cultural e de idade. Mas quando eu o conheci ninguém seria capaz de prever isso.

Comecemos pela filha dele, pois foi ela que eu conheci primeiro. Ela é uma mocinha muito tímida, meiga e desajeitada, que a gente olha e logo diz: "virgem". Verdade que também eu era virgem na época dessa história, mas ninguém diria isso, pelo contrário, era muito pra frente para os padrões daquele povo, de fato eu nasci na capital, só para estudar fui para lá, a excelência do padrão de ensino da FCV é famosa - mas não é de mim que quero falar, pelo menos não por enquanto.

Como disse no primeiro parágrafo, a gente fazia muito trabalho em grupo, e eu acabei formando grupo com a Graça. Estudamos na minha casa, eu, a Graça e outras duas colegas. A medida em que cada uma terminava sua parte se despedindo e voltando para casa, e no final só ficamos eu e a Graça.

Durante todo o tempo a Graça ficou sentada em um travesseiro, e eu não dei muita importância, afinal as cadeiras lá de casa eram mesmo duras, e a Graça, quando se levantava da cadeira, gemia um tanto e tinha dificuldade para se mover, mas ela dizia que era conseqüência de uma queda, e eu acreditei.

Quando a Graça se levantou, no final do trabalho, tudo já feito, ela pediu para beber água e eu mandei ela pra cozinha, dei mais uns retoques na capa do trabalho, olhei o resultado, estava ótimo, e fui para o banheiro. Dei com ela no banheiro e quase caí de costas quando vi o bumbum de minha amiga todo vermelho, inchado de tanto apanhar. Pelas nádegas se notava umas marcas vermelhas, redondas marcas de chinelo, semicírculos vermelhos nas curvas, que ficavam rosados na bases, até se confundirem com a pele - ou até começar outra marca, o que era muito mais freqüente.

Chocada, eu perguntei o que tinha sido aquilo. Ela não teve tempo de me responder, antes disso eu a levei para meu quarto pela mão, a joguei na cama, e peguei um creme para passar no bumbum de minha amiga. E repeti a pergunta na cama:

- Meu Deus, Graça, o que te deixou desse jeito?
A Graça, sem jeito, respondeu:
- Meu pai...
- O que?
- Meu pai me deu uma bela surra de chinelo...
- Surra de chinelo... na bunda?
- Cê tá vendo...

Meu Deus, se nem com criança se deve fazer isso... era caso de polícia! E eu não ia deixar de ajudar minha amiga nessa hora!
- Graça, vamos comigo para uma delegacia!
- NÃO! Cê acha que eu quero que isso se espalhe? E além disso, é meu pai, tem direito...
- QUE DIREITO NADA! VAMOS PRA POLICIA SIM, É UM ANIMAL, LUGAR DELE É NA JAULA! - eu mal sabia que logo me apaixonaria pelo homem que eu insultava assim...
- CALMA! PAPAI É MUITO LEGAL! CÊ TAMBÉM NÃO SABE DE TUDO NÃO!
- Bom... pode me dizer o que cê fez de tão grave assim?
- Já te digo, foi hoje de manhã:

"Cê sabe que até há pouco eu vivia numa pensão para moças, nesta cidadezinha. Pois papai resolveu comprar casa aqui. Em princípio é um investimento, ele ganha um bom dinheiro na lavoura e investe em imóveis, mas é claro que fico morando lá, enquanto for estudante, pelo menos.

Enquanto eu morava na pensão começou meu namoro com Roberto, cê conhece ele."

Sim, conhecia e conheço! É marido de Graça hoje. Belo homem, educado, bem posto na vida, inteligente, filho do já citado Coronel Valentino, irmão de uma deputada federal, uma senhora educada que se chama Fátima, tio de uma líder estudantil na capital, irmão de um secretário estadual, ele próprio hoje mora nos Estados Unidos, importa os produtos do latifúndio da família para vender para os americanos... na época era um jovem estudante, apaixonado por tão bela donzela... mas ele não é assunto deste conto, tem outros contos com ele e a Graça.

"Na pensão não dava pra gente se encontrar com freqüência, meu pai fez um acordo com a dona de lá: ela avisava ele toda vez que eu me encontrasse com um homem."

- Ora... então uma jovem adulta não pode namorar?
- Calma, poder pode, mas ele quer saber... deixa que eu conto tudo.
" Antes de sair da roça pra estudar, papai me disse:
- Lá tá ansí di gavião, filhinha, cuidadu. Sei qui cê vai namorá, qui vai cabá incuntrandu um namoradu, mas minha filha, si cuidi, até purque um homin num vai ti respeitá nim vai casá c'ocê si cê dê logu u qui eli qué. I tanbein, cê me avisa pá eli qui é pá cunversá cumigo antis di sair cum cê. Cê mi diz quandu tiver interesada num homim, i eli interessadu n'ocê, qui vou falar cum eli... queru tê uma cunversa di homim pá homim, só issu...

E eu então vou dizer pro pai que eu tô namorando? Claro que não! Ele vai querer se meter com meu namorado, vai querer interrogar ele, vai dizer que sou mocinha, e é pra ele me respeitar, e coisa e tal, isso quando eu já sei cuidar de mim...

Mas eu não queria assim, não queria que ninguém ache que meu pai manda em mim e me vigia e me controla e que tenho que dar satisfação pra ele e coisa e tal... daí comecei a namorar o Roberto Valentino e, bem, eu morava na pensão e disse para o Roberto:

- Olha, se a dona da pensão nos ver juntos, ela vai avisar papai, e ele vai querer ter uma conversinha com cê, e olha, vai ser o interrogatório mais chato do mundo! Então, vamos nos encontrar só na faculdade por enquanto, viu, e se eu tiver certeza de que te amo, e cê tiver certeza que me ama, nesse caso assumimos para meu pai... mas só nesse caso, tá bom?

E ele aceitou.

Mas eu sempre gostei dele, desde o primeiro olhar, mas eu não queria que ele soubesse que papai quer me controlar, que ele manda na minha vida, por isso quis evitar o encontro dos dois... que papai me deixaria namorar sim, mas ia mandar meus irmãos, a dona da pensão, e sei lá mais quem me vigiar, mandar relatório, e coisa e tal... e por isso, enquanto durou a minha estada naquela pensão, eu evitei aparecer muito com o Roberto.

Aí, fui morar naquela casa que o papai comprou e pensei: 'agora não tem dona de pensão nem ninguém para dar um toque pro papai... fico com o Roberto a vontade!'. E ele passou a freqüentar minha casa, e ficava lá até de madrugada, e a gente brincava... mas com todo respeito, pra valer só depois do casamento, eu só deixava ele encostar a mão no meu bumbum, e sem tirar a saia, ele que enfiasse a mão lá dentro e alisasse de leve... uma vez ele passou de leve o dedo no meu cabaço, aí que delícia!!!... mas dei um belo bofetão nele, tinha que exigir respeito!... mesmo adorando...

E hoje de manhã, quem chega? Isso mesmo, papai, e com uma cara que logo vi estava uma fera...
- Cê num mi falô dessi filho du Valentino!
- O Roberto?
- É, u Robertu!

Eu fiquei sem jeito e disse que a gente começara a pouco tempo e eu não tinha tido tempo de avisar, mas papai sabia de tudo, que os vizinhos tinham falado com ele, e ele tinha tido uma conversa com o Roberto, ele disse que sabia do nosso namoro, e que queria uma conversa séria, de homem pra homem, porque afinal de contas tinha o direito de saber como era o homem que saia com a filha, e o Roberto contou tudo, desde o começo, meu Deus, culpa minha, nunca imaginei que ele ia procurar o Roberto sem eu saber, até achava que ele nunca ia descobri, por isso não preparei o Roberto para o interrogatório... e o pior é que o Coronel Valentino, o pai do Roberto, estava presente, e disse pro Roberto abri o jogo, e dizer tudo o que sabia, que afinal ele tinha filha e o Roberto tinha irmã, e coisa e tal...

E assim o velho soube de tudo, e que foi enganado por seis meses, e pior, eu ainda achava que podia continuar a enganá-lo, e vinha com essa conversa de que o namoro era recente...

E papai perguntou o porque dessa farsa, e eu disse que tinha medo dele ficar bravo, mas ele não ficaria bravo por eu namorar, mas por eu querer esconder dele o namoro e tenta enganá-lo, inclusive mentindo até depois que ele já tinha descoberto tudo, quando a única coisa que ele teria era o justo desejo de saber do meu namoro e conhecer o Roberto, e também que eu não deixasse ele passar dos limites, é claro...

Quando ele perguntou o que achava que ele devia fazer, eu simplesmente não tinha argumentos. E ele, olhando nos meus olhos e falando asperamente, me mandou pegar um chinelo e entregar na mão dele.

Eu disse:
- Papai, já tenho mais de 20...

E ele tirou o cinto, me mostrou o cinto e perguntou se eu preferia o cinto. Fui buscar o chinelo.
Fui e voltei chorando. Na volta, eu ainda quis olhar para ele, com uma cara de medo e pena tão grande para ver se o comovia, mas ele me devolveu um olhar tão frio e feroz que me fez chorar ainda mais, e desesperada. Ele então me ordenou:

- Tira a saia i as calcinhas.
- Papai...
- Ou preferi qui eu tiri? Se eu tirá vai ser di cintu dispois!

Tirei a saia e as calcinhas, fiquei nua da cintura pra baixo. E ele me mandou ficar ajoelhada em cima de uma cadeira, o que fiz, sem falar nada, se eu tentasse falar alguma coisa ele poderia dar logo de cinto...

SPLESH SPLESH SPLESH... e ele me chinelava a bunda... bunda de fora apanhando... eu chorava de raiva, dor, vergonha, medo...

SPLESH SPLESH SPLESH... e comecei a gritar e logo a uivar... ele deu uma parada, me disse que se eu fizesse barulho os vizinhos iam ouvir, e ouvindo iam saber como eu apanhava... e eu tinha mais era que ter vergonha e que não aprontasse de novo...

SPLESH SPLESH SPLESH... e o barulho do chinelo agora reinava soberano, SPLESH SPLESH SPLESH meus pobres e discretos gemidos não eram concorrentes a altura... SPLESH SPLESH SPLESH e como doía, SPLESH SPLESH o chinelo era um havaianas do tamanho do meu pé SPLESH SPLESH pé de moça SPLESH SPLESH se encaixava direitinho na mão dele SPLESH SPLESH ele batia tão forte que as tiras se soltaram SPLESH SPLESH SPLESH ai ai ai... e eu chorava baixinho enquanto meu bumbum queimava...

Ele parou. O chinelo ficou pousado em cima da mesa.

O papai foi para o quarto dele, e me largou ajoelhada na cadeira. Eu então olhei de perto o chinelo. Era um havaianas com sola branca no lado de cima e verde no lado de baixo, tiras verdes, que tinham se soltado, já disse, e na parte de trás o chinelo estava torcido, papai apertou ele forte mesmo. Na parte da frente, na curvatura, estava torcido também, mas para cima, papai bateu forte também. Olhei o lado de baixo, o da sola verde, e as digitais do chinelo estavam bem nítidas. Tomei coragem e alisei meu traseiro. Além de arder como uma brasa, eu senti impressas em meu rabo as digitais do chinelo.

E papai me viu em pé com a bunda de fora e disse que se eu quisesse ficar lá tudo bem, mas alguém acabaria me vendo, e ia perguntar pra ele o que tinha acontecido comigo e ele ia dizer a verdade. Então achei melhor ir dormir e tentar esquecer o ocorrido.

E venho tentando levar a vida como se isso não estivesse acontecido. Por exemplo, vim aqui fazer esse trabalho. Mas devia ter tomado mais cuidado, cê descobriu..."

- E é isso?
- É isso.
- Não, cê não deixe ficar por isso mesmo não.
- E o que posso fazer?
- Chame a policia!
- Que policia, pra que, pra ter escândalo? Com tanto assassino solto eles vão se preocupar com um velho que corrigiu uma moça mentirosa? E o papai me sustenta nessa cidadezinha, ele me paga as contas, e isso aconteceu porque ele se preocupa comigo e eu tentei enganá-lo por vaidade...
- CÊ AINDA JUSTIFICA ELE? É UM CASO DE AGRESSÃO E HUMILHAÇÃO, CASO DE CADEIA!
- NÃO!
- SIM! QUE ELE TE CORTASSE A MESADA E NÃO PAGASSE MAIS SUAS CONTAS E NÃO TE DESSE MAIS CASA SE ELE ACHA QUE CÊ NÃO MERECE, MAS ELE NÃO TEM DIREITO DE TE BATER!
- Não... eu aí prefiro mesmo apanhar... entre perder a casa onde estou e ficar sem mesada, ou levar uma surra de chinelo, prefiro a segunda alternativa.
Olhei pasma para a Graça:
- Cê não vai a polícia comigo então?
- Não!
- Então vou falar com seu pai e enfrentá-lo!

A Graça olhou para mim com um medo, surpresa:

- Não seja boba!
- Boba, eu? Boba não é quem apanha no rabo feito tu, nessa idade?

A graça suspirou, e me disse:

- Ouça, quando papai me ofereceu uma chance para eu me formar, ele me ditou as condições e eu aceitei sem reclamar na hora. Poderia ter barganhado as condições, não fiz isso. Poderia ter rejeitado a ajuda dele e vindo para cá por minha conta, não quis. Eu aceitei já pensando em enganá-lo. Ele descobriu, eu paguei. Ele não me mandou de volta pra roça, e estou aqui. Pra mim o assunto já tá encerrado, já passou. Cê quer se meter pra que então? Vamos dar por encerrado, tá bom?

- Ah, vou falar com seu pai sim. E duvido que ele seja assim com quem enfrente ele.

E a Graça ficou olhando para mim, de braços cruzados, balançando a cabeça.

- Bom... que tal então cê me deixa em casa? Assim cê aproveita e fala com o papai.

E eu aceitei, achando que ia enfrentar um inimigo. Encontrei o amor. Mas isso fica para o próximo conto...

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